Era noite de 25 de março de 2020 quando o Governo de Santa Catarina divulgou o comunicado: confirmada a primeira morte por Covid-19. A vítima era um homem, de 86 anos, morador de Porto Belo e que morreu no hospital de São José, na Grande Florianópolis. O anúncio ocorreu treze dias após o Estado confirmar os dois primeiros casos, em um cenário que era repleto de incertezas. 

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Mas, nos últimos anos, o número de vítimas multiplicou. Segundo dados do Painel do Coronavírus do NSC Total, até esta quinta-feira (24), 21.642 mortes foram confirmadas – o equivalente a população do município de Urussanga, no Sul do Estado. Ou seja, é como se todo os moradores da cidade simplesmente deixassem de existir em apenas dois anos. 

São pessoas que deixaram para trás histórias, famílias, amigos e sonhos. São crianças, adolescentes, homens, mulheres e idosos que, têm em comum, a luta contra um vírus que, até hoje, traz dúvidas para especialistas, que encontram na vacinação uma forma de esperança.  

“Foi inacreditável” 

Apesar da primeira morte por Covid-19 ter sido divulgada em 25 de março pelo governo estadual, segundo dados do Painel do Coronavírus, a primeira vítima da doença no Estado foi uma mulher de 75 anos, moradora de Canoinhas, no Planalto Norte de Santa Catarina, em 22 de março de 2020. 

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Dezesseis dias depois, Deison Freitas foi quem entrou para a estatística. Natural de Tubarão, no Sul de Santa Catarina, ele foi a segunda pessoa mais jovem a morrer por Covid-19 na época, em 7 de abril, depois de ficar mais de duas semanas internado. 

Apaixonado por música, ele estava prestes a lançar um clipe da sua nova composição, que estava em processo de finalização. 

— Nós começamos a nossa relação de amizade em Tubarão entre 2015 e 2016. Ele era meu aluno e começou a me mostrar suas composições. Gravamos um disco e dois singles. O último ele tinha acabado de terminar o clipe, nem chegou a ver pronto — conta o amigo Marco Oliveira. 

Deison foi uma das primeiras vítimas de Covid-19 em Santa Catarina
Deison foi uma das primeiras vítimas de Covid-19 em Santa Catarina (Foto: Reprodução, Youtube )

Deison é lembrado como uma pessoa divertida e alegre. Segundo Marco, os momentos mais marcantes eram os encontros que ocorriam na casa do músico. Por isso, a notícia da doença deixou todos surpresos na época. 

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— Estávamos conversando e ele me disse que estava com uma dor de garganta. Até indiquei para que ele tomasse um chá. Dois dias depois, fui falar com ele, mas não me respondia. Tentei comunicação de novo, mas nada. Até que perguntei para alguns amigos que me disseram que ele estava internado — relembra. 

Em nota divulgada pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição na época, Deison foi internado na unidade no dia 19 de março. A confirmação do diagnóstico de Covid-19 foi divulgado no dia 23, cerca de duas semanas antes da morte. 

O hospital disse no comunicado que o paciente era tabagista, mas que isso não apresentava doenças associadas que pudessem agravar a doença: 

“O paciente masculino, de 34 anos, estava internado na UTI desde o dia 19 de março (…). O mesmo era tabagista, mas não apresentava nenhuma doença pré-existente. O HNSC é solidário e está prestando toda a assistência à família, bem como seguindo todo os protocolos recomendados pela Organização Mundial de Saúde”.

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Para o amigo e parceiro musical, a lembrança que fica nesses quase dois anos desde a morte de Deison é do amor que ele tinha pela música:

— Tenho umas lembranças boas de quando nos juntávamos para tocar. Nós tinhamos muita afinidade. O que eu sinto falta é da presença, porque nós nos acostumamos a ter a pessoa ali, principalmente de quem gostamos. Volta e meia eu lembro das nossas conversas. Foi inacreditável [a morte de Deison]. 

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2021: o ano letal da Covid-19

A situação da Covid-19 teve uma mudança significativa nos últimos dois anos. Em março do ano passado, por exemplo, quando completou um ano da primeira vítima, Santa Catarina chegava a marca de 10 mil mortos pela doença. Este número mais do que dobrou nos últimos meses. 

De 25 de março de 2021 para esta sexta-feira (25), houve um aumento de 11.534 vítimas – um crescimento de 114,10%. Além disso, foi em março de 2021 que Santa Catarina registrou o maior número de mortes durante toda a pandemia: 3.723 – o equivalente a população de Pinheiro Preto, no Oeste de Santa Catarina. 

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— Os números foram assustadores se levar em consideração a forma como ela [a Covid-19] apareceu e evoluiu. Foram muitas supresas até conhecer o que ela causa e ainda temos coisas sendo descobertas. Ao mesmo tempo, pelo lado da ciência, conhecer essa doença, como ela ocorre e ao mesmo tempo desenvolver estatégias farmocológicas foi uma luta contra o tempo e a gravidade do problema. Nesses dois anos nós aprendemos muito — pontua o infectologista e professor no curso de medicina da Univille, Tarcisio Crocomo. 

Até esta sexta-feira, 294 municípios catarinenses tiveram, ao menos, uma morte por Covid-19. O último a entrar na “lista” de óbitos foi Novo Horizonte, no Oeste de Santa Catarina. Sua primeira vítima foi registrada em 11 de fevereiro. Ela era uma mulher de 85 anos.

Joinville, no Norte do Estado, é a cidade com a maior quantidade de óbitos: 2.247. Já Flor do Sertão, no Oeste, segue sem vítimas em decorrência da doença em dois anos de pandemia. 

Atualmente, a taxa de letalidade – que leva em conta a proporção do número de casos e óbitos — está em 1,30%. Calmon, no Meio-Oeste, é a cidade com a maior taxa, com 10,1%: dos 69 casos registrados, sete evoluíram a óbito. 

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> O curioso caso de Calmon

Vacinas podem bloquear aumento das mortes 

Nos últimos meses, com o início da vacinação contra a Covid-19, o número de mortes caiu em Santa Catarina. Em dezembro de 2021, por exemplo, foram 180 óbitos, a menor quantidade desde julho de 2020, segundo o Painel do Coronavírus. 

Porém, com a chegada da variante Ômicron e o aumento nas infecções, as mortes voltaram a subir em Santa Catarina no início desse ano. Um panoroma disso é que em fevereiro foram 730 óbitos, maior número desde agosto do ano passado. 

Em março, porém, o Estado voltou a ter queda nas mortes. Até esta quinta-feira, de acordo com o Painel do Coronavírus, eram 204 óbitos. 

— A vacina tem tentado bloquear isso [as mortes] e tem sido um sucesso. Mas temos que continuar pedindo para que a maioria da população se vacine e mantenha os cuidados, evitando aglomerações, usando máscaras e higienizando as mãos — reforça o infectologista Tarcisio Crocomo. 

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O especialista diz, ainda, que não está descartada a hipótese de que a Covid-19 se torne uma doença endêmica em breve ou que aparece em determinados períodos do ano. Mas, enquanto isso não ocorre, os cuidados devem ser redobrados. 

— A situação é mais tranquila, mas a atenção tem que ser mantida. A vacina, junto com essas medidas, está se mostrando vitoriosa, porém convém um pouquinho mais de paciência. Quem não se vacinou ou não completou o esquema, faça para se proteger — reforça. 

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