Da laranja à bola da Série A do Campeonato Brasileiro. O menino que chutava frutas é homem de confiança do Avaí na maior competição do futebol nacional. Campeão e craque do Catarinense, João Paulo está prestes a jogar pela primeira vez a elite. Sempre foi só futebol. Por ele contrariou os pedidos de mãe Maria Elizabete para que ajudasse na venda de hortifrútis em feiras e recusasse a oferta do dinheirinho garantido no emprego conseguido pela irmã em uma fábrica de calçados para que fosse pé de obra e fizesse da redonda instrumento de trabalho. Deu certo, já depois dos 20 anos. A persistência que o acompanha desde Guarabira (PB) estarão a serviço do Leão na luta para não ser figurante no Brasileirão.

Continua depois da publicidade

Desde criança a persistência o acompanha no futebol. Na escola matava as aulas depois do recreio para continuar na quadra. Depois do colégio, o campinho perto da casa simples era o local preferido na cidade natal, a quase 100 quilômetros da capital João Pessoa. Mas o programa preferido do garoto, a lembrança mais forte da infância, era ir aos campos de várzea com o sobrinho da mãe, chamado Carlos Antônio, a quem se refere até hoje como tio e já falecido. Atrás de uma das traves, enquanto ele jogava, João Paulo se divertia com a bola e as outras crianças. Sempre foi só futebol. Por isso persistiu.

Sem formação, sofreu nas primeiras tentativas em clubes pequenos do Nordeste, na maioria com contratos de três meses, sem receber salário em dia, que fazia falta em casa, e em condições precárias. Quando não tinha um campeonato por disputar, se virava com laranjas e na venda de frutas, ajudando a mãe. Até que as coisas começaram a melhorar em 2014, quando defendeu o Sergipe. Desde então é atleta, com contrato até o fim do ano e clubes como ASA, Tombense e Santa Cruz no currículo. Os oito gols e boa atuações nos 33 jogos pelo Atlético-GO na Série B do ano passado fizeram dele escolha do Avaí para o Brasileirão. João Paulo retribui encharcando de suor a camisa azul e branca, porque nos dias de operário da bola aprendeu o que nenhum treinador de base ensina.

– Procuro sair de campo com o pensamento que dei o melhor, para mim e pelo clube que defendo, independente se fiz gol, se perdi, se ganhei. Tenho que sair com a consciência tranquila. Não existe motivação maior de fazer o que você gosta. Eu gosto de jogar futebol. Procuro dar o melhor no treino e no jogo. Batalhei muito para estar onde estou. A consciência de sair de campo sabendo que dei o melhor é o que me importa.

Persistência e muita vontade. Era o que o Avaí precisava para esta temporada, em que vai à Série A do Campeonato Brasileiro sedento por mais que breve participação, como nos anos anteriores. O espírito batalhador de João Paulo foi apresentado no Campeonato Catarinense, recompensado com conquista coletiva e individual. Conquistar a permanência na elite pode contentar muito torcedor azurra, mas não ao meia-atacante de 28 anos.

Continua depois da publicidade

– Passei por muito clube sem condição de pagar em dia. Quando comecei a receber em dia, algo importante ao atleta, eu botei na cabeça que teria de subir mais, não poderia voltar para trás. Tiveram muitas situações difíceis, mas elas vêm para quem pode superar. Creio que as dificuldades eu superei e me fortaleceram para ir em busca do meu sonho.

A partir deste final de semana ele começar a chuta a bola da Série A do Campeonato Brasileiro nas redes dos adversários. Como se chutasse laranjas em feira no interior da Paraíba.

João Paulo deixa infância difícil na Paraíba para brilhar pelo Avaí
João Paulo deixa infância difícil na Paraíba para brilhar pelo Avaí (Foto: Diorgenes Pandini)