A Polícia Federal trabalha para entender detalhes da cronologia e a motivação do ataque ao Supremo Tribunal Federal na noite da quarta-feira (13). Francisco Wanderley Luiz, de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, apontado como responsável pelas explosões, morreu. O homem de 59 anos já tinha histórico de envolvimento em atos políticos extremos e foi candidato a vereador em 2020 pelo Partido Liberal (PL).
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Imagens de câmeras de segurança mostraram que Francisco chegou à Praça dos Três Poderes a pé, depois de deixar o carro no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados, perto do local. Primeiro, bombas acionadas explodiram dentro do veículo. Segundo depois, Francisco arremessou artefatos em direção ao STF, um deles na escultura “A Justiça”, em frente ao prédio. Durante o ato, faleceu ao ativar uma bomba junto ao próprio corpo, que estava também com explosivos amarrados em um cinto.
O episódio não deixou outros feridos e não chegou a atingir o imóvel do Supremo, mas no momento do ataque estavam ocorrendo sessões de plenário na Câmara e no Senado, que foram suspensas. A do STF já tinha terminado e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia deixado o Planalto. Forças de segurança passaram a atuar já na primeira explosão — a do automóvel — e o esquadrão antibombas foi ao local para atuar.
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O ato foi o desfecho de anos defendendo ideias extremas, descreve o irmão de Francisco, Rogério Luiz. Natural de Rio do Sul, Tiü França, como era conhecido na cidade, era um homem que não apresentava sinais de agressividade, mas passou a criticar insistentemente a política brasileira. Em 2020, candidatou-se, mas não se elegeu para a Câmara de Vereadores de Rio do Sul. Chaveiro e ex-dono de baladas, estabeleceu uma vida confortável no maior município do Alto Vale ao administrar os empreendimentos e alugar quitinetes, mas deixou tudo para trás nos últimos meses e foi viajar.
Afastou-se da família, conta ainda o irmão, pois era difícil manter um diálogo com o catarinense. Dizia que era contra “o sistema”, que a população era massa de manobra. O perfil dele foi ficando cada vez mais extremista ao ignorar os conselhos dos parentes, que diziam que os pensamentos radicais não o levariam a lugar algum.
Histórico radical
Em 2022, participou dos protestos que bloquearam rodovias depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perdeu as eleições. Na mesma época, fez parte do grupo de bolsonaristas que hostilizou o ministro do STF Luís Roberto Barroso em um restaurante em Porto Belo, no Litoral Norte catarinense. Barroso precisou sair escoltado, mas ninguém foi preso.
— Ele me contou que foi lá [onde estava o ministro] e me chamou atenção que ele falou que “tinha que explodir tudo esse tipo de gente”, os políticos. Não todos, tinham os que ele visava mais. Ele veio alimentando a ideia e se transformou — lamenta Rogério.
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Divorciado há mais de duas décadas da mãe dos dois filhos dele, Francisco separou-se da atual companheira tempos atrás, período em que se afastou ainda mais da família e foi viajar. Passou pelo Chile, Minas Gerais e há cerca de quatro meses alugou um imóvel em Ceilândia, região administrativa de Brasília.
Fez várias visitas ao Congresso Nacional. Em algumas delas, esteve no gabinete do deputado federal Jorge Goetten (Republicanos), a quem conhecia há mais de 30 anos por serem da mesma cidade. De acordo com o deputado, Francisco nunca comentou sobre o que pretendia fazer, mas estava com sinais de depressão e citava o divórcio como causa. Em agosto, o empresário fez uma visita guiada ao Supremo. Pouco antes do atentado, publicou nas redes sociais uma foto dentro do STF e escreveu que haviam deixado “a raposa entrar no galinheiro”.
Segundo informações do Governo do Distrito Federal, na quarta-feira (13) ele esteve novamente circulando pelo Anexo IV da Câmara, que tem acesso público controlado por seguranças e detectores de metais. Francisco também tentou entrar no STF, mas não conseguiu. O acesso ao Supremo é mais restrito, especialmente quando os ministros estão em sessão no plenário.
No histórico de Francisco consta uma passagem pela polícia por ter realizado uma festa durante a pandemia do coronavírus, em meio às restrições sanitárias.
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Veja a cronologia dos fatos
- Primeiro, o carro explodiu no estacionamento entre o STF e o Anexo IV da Câmara;
- Menos de meio minuto depois, Francisco arremessa dois explosivos em frente ao STF antes de se suicidar;
- As explosões causaram pânico na Praça dos Três Poderes, onde ficam o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto. No horário em que ocorreu o atentado muitos servidores estavam circulando, indo para casa;
- Segundo informações da polícia do Distrito Federal, a maior parte dos explosivos que estavam no carro de Francisco, um Kia Shuma, não foi acionada. Dentro do carro havia material explosivo e tijolos, que poderiam ter atingido pessoas a longas distâncias;
- A identidade dele não foi descoberta logo em seguida porque foi preciso acionar o esquadrão antibombas para fazer uma varredura e verificar a existência de mais explosivos nos arredores, inclusive em veículos e no corpo de Francisco;
- Um robô retirou os dois explosivos que estavam presos no cinto que ele usava para então o cadáver ser retirado da praça;
- A polícia foi até a quitinete onde ele morava, em Ceilândia, onde foram localizados mais explosivos – o que sinaliza a preparação para o ataque;
- Inicialmente com a Polícia Civil, a investigação foi assumida pela Polícia Federal (PF) e pelo STF. A depender do andamento, o caso pode ser enquadrado no inquérito que apura os atentados de 8 de janeiro; e
- Na manhã de quinta-feira (14), viaturas da PF compareceram ao endereço em que Francisco morava em Rio do Sul, no Alto Vale. Foram apreendidos um celular e pendrives, mas não foram localizados materiais com relação direta com as explosões.
PL se manifesta
Francisco era filiado ao PL desde 2020, mas o presidente do partido em Rio do Sul, Milton Goetten, disse que ele não atuava mais politicamente pela legenda e sequer se envolveu na última campanha eleitoral. O governador Jorginho Mello, também do PL, disse que não conheceu o ex-candidato a vereador.
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