O produto interno bruto (PIB) de Santa Catarina caiu 4,1% em 2015. O índice de desemprego no Estado subiu para 6% no primeiro trimestre de 2016. A primeira informação vem da Secretaria da Fazenda do governo estadual. A outra tem origem no IBGE.
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Abstraindo-se a nomeação da equipe econômica de Michel Temer, estes dois fatos marcaram a cena desta semana no ambiente catarinense e refletem as circunstâncias vividas pelas empresas em todas as cadeias produtivas de todas as regiões socioeconômicas desde o segundo semestre de 2014.
Santa Catarina nunca esteve imune à crise econômica. Vivemos um momento – um longo momento – de sofrimentos. O percentual de queda da riqueza em SC em 4,1% é maior do que o do recuo da produção da riqueza nacional, calculada em 3,8% abaixo do verificado um ano antes. O sinal nos mostra o tamanho dos problemas e a urgência em se combater, no front da crise aguda, com armas mais ágeis e de solução eficaz.
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Temos grandes problemas de competitividade. Os mais conhecidos, todos sabemos: infraestrutura precária; padrão de educação inadequado frente a players globais; baixa inserção tecnológica, apesar de notórias ilhas de excelência indiscutíveis. Dirão os otimistas que o colunista só enxerga o lado negativo. Não, não é assim.
A admissão de dificuldades comprovadas – e isso o secretário da Fazenda do Estado, Antonio Gavazzoni, faz reiteradamente e vem repetindo à exaustão – se estende a outros aspectos. A expulsão de dezenas de milhares de pessoas do mercado de trabalho é outro elemento sério a ser percebido, e sobre o qual cabe um raciocínio mais apurado. Aliás, o IBGE nos deu novo e indesmentível retrato de realidade desagradável.
O índice de desemprego, em SC, é recorde. O do terceiro trimestre é o maior desde 2012. Ao traduzirmos índices em números absolutos, vamos reconhecer que há 220 mil trabalhadores desempregados para um universo de 1,75 milhão de empregados da iniciativa privada com carteira assinada. Um dado preocupante? Sim, é, mas como todas as situações da vida, também esta tem de ser relativizada.
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Como a economia é uma ciência social e se alimenta de expectativas e análises de tendências, a partir dos fatos já dados, a comparação temporal nos dá a chance de lançarmos um olhar mais abrangente. Feito assim, vemos que a nossa sala, na escala de Dante, é a do purgatório. E lembrar Sartre, num outro contexto sociológico, que cunhou a expressão “o inferno são os outros”.
O pensamento, agora, se dirige à noção do que significa o índice de desocupação. Os 6% de desemprego são o menor patamar entre todos os Estados brasileiros. Quer dizer, a desgraça dos vizinhos é maior. O que explica isso se apoia num ponto: a diversificação da matriz econômica catarinense nos dá a oportunidade de encarar os desafios com a necessária cautela, mas com grau menor de desespero.
Mas não há muito a comemorar. Só nos últimos 12 meses, o desemprego já tirou 82 mil pessoas do mercado de trabalho. Igualmente graves, mas vindas de outra direção, chegam informações da Secretaria da Fazenda do Estado. A arrecadação de impostos está caindo há 16 meses.
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Do lado da iniciativa privada, a confiança da indústria, mapeada por pesquisa da Fiesc, melhorou um pouco, embora continue bem abaixo dos 50 pontos, que dividem a linha entre pessimismo e otimismo. Em maio, este indicador foi de 41,4%, um tanto melhor do que os 38% verificados um mês antes.
Um pequeno alento. Nada extraordinário. Mas um suspiro. Otimismo, mesmo, só virá se Michel Temer, Henrique Meirelles e companhia ganharem duas batalhas árduas em Brasília. O grupo precisa conseguir convencer os investidores de que o governo interino fará os cortes de gastos exigidos, além de obter, do Congresso, o aval para aprovar projetos absolutamente impopulares, o que será essencial para manter-se à tona e com aceitação do capital.
Reduzir direitos sociais, mexer nas conquistas na Previdência Social, bloquear recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida, tudo está no script do governo interino. Ainda terá de domar lobbies e interesses incrustados na máquina pública e “combinar com os russos” da Câmara de Deputados para não ser surpreendido com derrotas importantes.
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Estas todas não são tarefas para um governante que só tem um ano e meio de mandato efetivo. Veremos, em até 90 dias, se a competência dele, demonstrada na articulação dos bastidores, vai ser a mesma à frente dos músicos. A maré está baixinha nesse começo. O mar pode encrespar. Impedir que as coisas piorem é o melhor a fazer. A sociedade olha.
Os donos do poder – que também é título de um clássico livro da historiografia brasileira – medem cada atitude. O povo vê na televisão, e nos computadores, o desenrolar do que vem acontecendo. Uns esfregam as mãos de tanta ansiedade. Outros só querem sobreviver. Com emprego, de preferência.