Os cinco meses que separaram as duas posses de Daniela Reinehr (sem partido) para mandatos interinos no governo de Santa Catarina dividem também momentos muito diferentes no Estado a ser comandado por ela. Se em outubro do ano passado a governadora em exercício falava que o foco era a retomada econômica e a estabilidade política, agora não há espaço para qualquer outro assunto além da pandemia do coronavírus, no mês em que mais catarinenses morreram por covid-19 até hoje. Por isso, é na saúde que a nova gestão de Daniela terá que se provar.
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Alçada ao cargo novamente graças a outro afastamento de Carlos Moisés (PSL) para enfrentar um processo de impeachment, Daniela fez os primeiros movimentos do governo exatamente na área da saúde, buscando respaldo da deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania), profissional da saúde conhecida em SC e de ótima circulação em Brasília. Desejo antigo de Moisés e da própria Daniela para o cargo, a deputada já havia negado o convite em duas ocasiões no ano passado, e agora assume a pasta que está no centro das atenções.
No afastamento anterior, Moisés foi penalizado pela falta de diálogo com a Assembleia Legislativa de SC (Alesc). E foi para os deputados que Daniela acenou durante a primeira interinidade, que acabou marcada por uma série de recuos, idas e vindas com grupos bolsonaristas que a apoiavam (e cobravam posições) e nenhuma medida efetiva contra a pandemia, que voltava a recrudescer ao fim do mandato temporário.
Agora, embora sem sinalizar claramente o que pretende fazer e o que vai mudar no combate ao coronavírus, a governadora em exercício falou, basicamente, apenas em pandemia no primeiro discurso oficial após assumir o cargo essa semana.
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– A nossa principal dificuldade hoje é o enfrentamento à pandemia e a busca por vacinas. A boa notícia é que a gente já tem uma maior quantidade de doses, e a expectativa que a produção aumente e a gente alcance mais cidadãos. Mas temos a necessidade de melhorar a nossa estrutura hospitalar para atender a demanda que cresceu de forma assustadora – destacou, clamando por uma “luta pela vida” unindo poderes no Estado.
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Discurso alinhado contra o lockdown
Tanto Daniela Reinehr quanto a nova secretária de Saúde, Carmen Zanotto, defenderam nos últimos dias o isolamento social e outras medidas básicas para prevenção contra o coronavírus. No entanto, alinharam o discurso e evitaram comprar a briga da qual Moisés e o ex-chefe da pasta, André Motta Ribeiro, também escaparam: o lockdown recomendado por especialistas em saúde e órgãos de controle como o Ministério Público.
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Daniela afirmou que defende medidas restritivas, mas que é contra atos “proibitivos” e prefere ações de conscientização da população. Na mesma linha, Zanotto disse que o controle da pandemia do coronavírus em Santa Catarina depende de distanciamento social, mas que não vê espaço para novas restrições:
– Não adianta pensarmos em restrições mais duras, se não pensarmos na mudança de comportamento individual. Medidas só têm efeito quando se evita, também, pequenas festas de aniversário nas nossas casas ou quando se tem cuidado na hora do lanche, do cafezinho. O distanciamento precisa acontecer e precisamos respeitar no nosso dia a dia.
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Mudanças no secretariado
A troca no comando da Secretaria de Saúde foi a principal da primeira semana do novo período de Daniela Reinehr, mas veio acompanhada de outras mudanças forçadas, principalmente, por pedidos de exoneração de apoiadores de Moisés. A governadora em exercício anunciou novos nomes na Procuradoria-Geral do Estado, Casa Civil, Comunicação e Infraestrutura.
Daniela deixou em aberto a possibilidade de novas alterações, mas elogiou alguns secretários que ela deseja que permaneçam no cargo, como o deputado estadual Luiz Fernando Vampiro na Educação e Paulo Eli na Fazenda. O primeiro, representante da guinada que Moisés deu em direção a uma relação mais próxima com o parlamento, enquanto o segundo já ocupa a pasta antes mesmo do governo atual.
Nos bastidores, os novos nomes que compõem o primeiro escalão do governo mostram relações de outras figuras políticas que podem participar indiretamente da nova tentativa de Daniela construir uma imagem de governadora. A chegada de Carmen Zanotto teve a participação do senador Jorginho Mello (PL), um dos nomes mais próximos do presidente Jair Bolsonaro em SC, e há relatos de indicações também do ex-deputado e candidato a governador em 2018, Gelson Merísio.
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