Marty McFly teria algumas decepções se realmente tivesse desembarcado por aqui na quarta-feira passada. O filme De Volta Para o Futuro não previu que teríamos alguns trunfos de tecnologia à mão, mas se o Dr. Brown soubesse como usamos estas pequenas máquinas de comunicação, teria engatado a ré no DeLorean de imediato. Avançamos e retrocedemos em simultâneo. A recente cheia provou que ainda temos muito a aprender para usar em nosso favor a tecnologia que está ao alcance do dedo.

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A chuva começou a pipocar com mais força e fotos de enchentes antigas brotavam pelo WhatsApp. Todas como se fossem atuais. A desinformação não vagou só por pixels. Circulou com voracidade o áudio de um boletim do apocalipse afirmando que a enchente seria muito pior que a de 1993 (ano que, de acordo com o histórico disponível no site da prefeitura de Blumenau, não houve enchente) e que a previsão não estava sendo divulgada por conta da Oktoberfest. Ainda fazia afirmações sobre a barragem de Taió, alarmando o risco da represa estourar. Qual o objetivo de gerar desinformação e alarde? Tem responsabilidade também quem compartilha sem checar a veracidade. Desconfie. Sempre.

Duvidar foi a primeira lição verdadeira que aprendi na prática do jornalismo. Saímos da faculdade com a teoria fresca na memória, mas faltavam os calos essenciais à profissão. Coisas que só aprendemos trabalhando. É preciso ouvir uma, duas, quantas fontes (no jargão jornalístico são as pessoas consideradas autoridades ou especialistas no assunto tratado) necessárias para tirar qualquer vestígio de incerteza para só então seguir a reportagem. O cuidado não é à toa. Que o jornalismo é capaz de construir e destruir com a mesma força é uma das primeiras lições teóricas da profissão. Agora, que todos podemos ser emissores de informação, o mesmo vale para o que é postado. Precisamos, de uma vez, tomar consciência do poder que cada usuário tem nas redes sociais. Nada é confidencial. Tudo é compartilhável.

Quando recebi a primeira vez o áudio, fiz o de praxe. Munida da minha desconfiança, parti para a pesquisa e nada se confirmou, como imaginei. A tecnologia nos dá a incrível possibilidade de acessar praticamente todo tipo de dado. Não faz sentido acreditar em boatos quando podemos acessar notícias de veículos de comunicação responsáveis, além das ferramentas úteis abastecidas por quem faz as previsões, como o aplicativo Alertablu e sites das prefeituras da região.

Estamos num tempo em que há informação com fartura sobre quase tudo. O que é inútil quando ainda se carece o discernimento para entender o que é válido ou não e quais são as fontes com credibilidade. Enquanto isso, a desinformação segue apostando na ingenuidade para não ser reconhecida. Veste a máscara da informação, multiplicando a ignorância.

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