Outro dia, entediada, tratei de buscar no Facebook alguns conhecidos da vida off-line, mas que por algum motivo não os tenho no modo on. Confesso: sou chata na rede do mocinho Zuckerberg. Quase diariamente edito minha lista de “amigos”, classificando-os numa ordem que vai de quem, em tese, está realmente próximo até conhecidos, no melhor (ou pior?) estilo Black Mirror. Isso confere alguma segurança em relação aos dados que publico, além de garantir certo conforto dentro da minha própria bolha ideológica.

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Ok, já sei. Sim, lembro bem que eu mesma já sugeri por aqui que estouremos nossas quentinhas bolhas ideológicas para olhar além do nosso próprio umbigo. Em vários aspectos a ideia é válida, como, por exemplo, política. Mas algumas coisas são realmente difíceis de tolerar. Como aquela tia que publica todos os dias vídeos que até alguns anos atrás eram restritos a correntes de e-mail e agora pululam nos grupos de WhatsApp e na rede de Zuck poluindo a timeline com purpurina e ursinho cor-de-rosa. Todo tipo de corrente está fora de cogitação na minha estimada bolhinha. São defenestrados também os que amam ou odeiam demais qualquer partido político (tenho sérias desconfianças sobre relações exageradamente apaixonadas nesta área). Quem, apesar das boas intenções, compartilha fotos que possam provocar alguma revolta estomacal também vai para o limbo de conhecidos.

Nestas andanças on-line jurei que algumas contas nas redes sociais de conhecidos estão sendo usadas por terceiros que publicam coisas de índole questionável que não combinam com as pessoas da foto. Na minha busca encontrei uma vizinha, moça querida, simpática, cheia de sorrisos de bom-dia, com publicações, digamos, controversas. Cada um faz o que quer da vida, claro, mas tanta segregação e ódio não combinam com a doçura que mora ao lado. Seria amarga por dentro?

Outro dia quase interfonei para checar se um vizinho, por acaso, tivera o computador invadido por algum hacker sem coração. Publicaram coisas impublicáveis no Facebook dele. Do ódio ao desejo de assassinato meticuloso. Foi difícil imaginar o senhor de fala animada, sempre simpático, cabelos prata desejando o mal. Alguém sugeriu, há algum tempo: leia em voz alta antes de publicar. Se você não sentir nada estranho enquanto se escuta, publique. Caso contrário, melhor manter-se longe do “o que você está pensando?”. Às vezes acho que é caso de dupla personalidade. Há uma para a vida off, e outra, para a on.

Nas redes sociais há os conhecidos haters. São pessoas metralhadoras de ódio. Não querem saber se vão ferir quem está do outro lado da tela. Disparam toda falta de sorte de frases negativas e depreciativas. Até que alguém teve uma ideia genial. Fez um Tumblr (espécie de blog) com montagens de frases desses odiadores profissionais junto de fotos dos seus autores. Nas imagens, pessoas normais, em dias felizes com amigos e família. Parecem casos de dupla personalidade. Coisa para psiquiatra resolver, acredito. Vou recomendar aos meus vizinhos.

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