Papai Noel é senhor corajoso, encara duras tarefas. Trata-se de um homem distinto, apesar de pouco discreto, que mora num país longínquo, viaja longas distâncias para satisfazer prazeres capitalistas. Antes com jornada delimitada ao mês de dezembro, agora tem aparecido cada vez mais cedo. Neste ano, sinais de sua chegada puderam ser notados já em outubro. Pense na logística para antecipar uma viagem tão longa. No Bom Velhinho algumas coisas são realmente intrigantes.
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Suas roupas são desproporcionais ao clima nesta época do ano aqui pelas bandas do Hemisfério Sul. Se o inverno blumenauense não justificaria parca de tecido grosso, calças e coturno de cano médio para um senhor com tecido adiposo avantajado, imagine o verão. Antes de trazer o Papai Noel dos Estados Unidos, ops, da Lapônia, poderiam ter pensado em trajes condizentes com o calor tropical. Camiseta floral, bermuda e chinelos de tiras o deixariam mais confortável. Caso quisesse manter o look hipster, a exemplo do policial da federal, poderia aparar a barba em alguma das muitas barbearias gourmet que abriram nos últimos tempos na cidade. Há uma em cada esquina. A coragem do velhinho vai além.
Já vi Papai Noel passeando de muitas formas. Até no ônibus pude encontrá-lo. Neste ano deve estar mais à vontade com o Piracicabana iluminado. O senhor rechonchudo não fica satisfeito em passear discretamente, atirar balas para as crianças, lançar tchauzinhos aos mais atentos. É sempre precedido por buzinaços e música alta o suficiente para deixá-lo surdo. Até de lancha já foi visto, menos no trenó com renas. Pudera, onde as arranjaria por aqui? Capivaras seriam mais adequadas caso realmente quisesse aderir aos signos blumenauenses. A conclusão do começo desta crônica foi inevitável quando o vi, dia desses, dando expediente no mais estranho dos trenós adaptados: um caminhão. Ele estava sobre o motor, tentando firmar-se em barras improvisadas enquanto o motorista buzinava, feroz, talvez sinalizando a possibilidade de uma iminente tragédia natalina. Pobre velhinho.
Não bastassem todas as adversidades, ele ainda precisa conservar a simpatia e onipresença durante todo o mês. É figura amada e odiada na mesma proporção. Não são poucas as fotos de crianças sorridentes no colo do senhor de vermelho. Também são muitas as que veem nele alguém vindo do inferno imaginado por Dante. As balas seriam estratégia de conquista? Ainda que, supostamente, distribua presentes, ganha muito pouco. Em geral recebe beijinhos, pedidos, promessas acompanhadas de bicos, fraldinhas e toda sorte de apetrechos de ninar que geram desgosto aos pais. Certo que o Pelznickel nutre ciúmes. O gorducho de vermelho fica sentado num trono enquanto o monstro tem de correr atrás das crianças cobrando eventuais malcriações delatadas pelos pais ao ogro verdejante. Se o pequeno tiver azar, o bico vai parar no chifre da aberração. Ser Papai Noel não é fácil.
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