Querido Papai Noel, depois de um longo hiato, volto a lhe escrever. Espero que nossas rusgas tenham sido superadas. De minha parte, foram. Tente entender. Eu tinha só seis anos e já naquele tempo o calor úmido do dezembro blumenauense não me fazia bem. Afundada no sofá, esperava que o tempo daquela manhã de sábado passasse logo. Queria que meus pais escolhessem de uma vez o que foram buscar naquela loja que transbordava gente em plena Rua XV.
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Não foi nada pessoal, nem caso pensado. Nunca nutri profundo apreço por balas. Jamais achei que lhe ofenderia ao recusar a sua generosa oferta. Mas o senhor não precisava ter me chamado de mal-educada. Eu só estava impaciente e suando. Sempre foi difícil sorrir nessas horas. Neste ano achei que deveria enviar uma carta ao senhor. Espero que não se incomode com a publicidade dela. Está até na moda. Não há nada a temer quanto a isso. As coisas andam confusas. Talvez o senhor consiga nos ajudar.
Que tal dar de presente de Natal um pouco de noção de humildade e espírito de coletividade a algumas pessoas? A turma está bagunçando o coreto atrás de poder. É o sujo falando do mal lavado. Pensando bem, um pouco de sabão seria bacana entregar em Brasília. Por aqui tenho umas sugestões de encomendas.
Pediria para trazer de volta os ônibus que sumiram e estão deixando o pessoal apertado feito sardinha. Pagamos um bocado para ter o direito de usar o transporte público para ainda ter de passar por isso, o senhor não acha? Talvez uns livros de administração e gestão transparente ajudem a começar a desembaraçar o causo. Só sei que são os trabalhadores que mais amargam nessa história. Enquanto uns só precisam chegar no horário certo para garantir o emprego, outros só querem ter o salário suado na conta como foi combinado na hora de assinar a carteira. O senhor acha justo trabalhar e não receber o que lhe é de direito na data combinada?
Aproveitando o ensejo, será que podemos combinar de rever a questão de presentes no Natal? É um pedido estranho, eu sei. A sua função é entregar regalos. Temos confundido um pouco as coisas. Os presentes têm que ser cada vez mais caros para ter algum valor. Estão prezando mais o que chega em pacotes coloridos do que o momento de união e carinho com quem nos é querido. Que tal experimentarmos um ano sem? O senhor poderia chegar depois da ceia, desejar Feliz Natal e abraçar cada um.
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Ah, talvez já tenham lhe alertado sobre uns probleminhas na logística do dia 25. Dizem que o senhor lembra de todas as crianças, mas em alguns lugares os presentes não chegam. Engraçado que são sempre os mesmos. Imagino que seja alguma falha no sistema. As renas têm problemas em subir morros? Se for possível providenciar algum desses pedidos, ficaria feliz. Sei que não são simples e o Natal já está à porta. Obrigada. Nos encontramos no shopping.