É evidente o peso da participação feminina: somos, em Blumenau, 121 mil eleitoras, 52% do total. Garantias de que elegeremos mulheres como representantes, porém, não existem. O total de postulantes a vereadoras cobre com gordura ínfima a cota feminina determinada pelo TSE. Legalmente é preciso que 30% do total de candidatos sejam mulheres, mas ultrapassamos apenas 0,8 ponto percentual do que diz a lei. Porém, apesar da participação forçada, em toda a história da Câmara blumenauense elegemos apenas cinco vereadoras. Extrato da sociedade, perceber a participação feminina na política tradicional é também entender a mulher contemporânea. Elas são maioria na população: 51,4%. Estão mais presentes no ensino superior, preenchendo 57% das vagas universitárias. Se há algumas décadas o habitual era que os homens assumissem a responsabilidade financeira da casa sozinhos, hoje boa parte é chefiada e sustentada de forma partilhada entre casais. Ainda assim, as mulheres são responsáveis, sozinhas, pelo sustento de 37% dos lares. Chefiam, também sozinhas, outros 39% dos 57 milhões de domicílios.
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Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também revela que as mulheres trabalham, em média, 36 horas por semana fora de casa e mais outras 22 horas em casa – incluindo os cuidados com os filhos. Enquanto os homens trabalham, em média, 44 horas semanais fora de casa, mas o tempo dedicado às atividades domésticas é de, em média, 10 horas. Elas têm a remuneração, em média, 26% menor para desempenhar as mesmas funções que homens. Vivem, em média, 78,8 anos. Sete anos mais que eles.
Avançar em educação, mercado de trabalho, remuneração (ainda que a diferença salarial continue enorme) e melhor saúde não tem sido sinônimo de maior participação na vida pública. Em relação à última eleição – em que nenhuma mulher foi eleita vereadora titular em Blumenau – o número de candidatas ao pleito deste ano ficou praticamente igual. São muitos os fatores que levam a esse saldo amargo.
A cultura de que mulher não entende de política se mantém. Fazer política é saber traquinagens eleitorais ou estar disposto ao bem comum? Precisa-se encorajar desde a infância a participação política. Neste caso, tanto meninas quanto meninos. Não somos preparados para a prática da democracia. Participar da vida da cidade é direito e dever que, em geral, as mulheres não sabem que têm. Não é difícil entender o motivo de audiências públicas terem, muitas vezes, a maior parte de homens no público. Com jornadas duplas, elas têm de escolher entre o que vai impactar de imediato na vida dela: a roupa para lavar e o filho com fome ou a mudança de zoneamento da região onde mora.
Avançamos no privado, mas ainda precisamos estar na vida pública em proporção ao que somos na sociedade. A ONU afirma que a igualdade de gênero, se continuar no ritmo que está, acontecerá apenas daqui a 80 anos. Mulheres na política serão importantes para antecipar esse prazo. No saldo dessa urna, todo mundo sai ganhando.
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