Dizem que uma boa estratégia de conquista ou da paquera é pelo estômago. A verdade é que o ditado vale para praticamente todo mundo. Família, amigos, desconhecidos. Ficam de fora dessa regra os que exageram nos não me toques na hora de comer e o pessoal da barriga trincada/negativa. Essa turma que passa os dias entretida com supinos, esteiras, whey protein (argh!), frango pálido e batata-doce cozida no vapor pouco sabe o que perde ao recusar lactose, glúten, gordura e qualquer outra coisa demonizada por quem controla a balança com rédeas curtas.
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Comecei a função entre as caçarolas relativamente cedo, o que me deu alguma vantagem em relação aos amigos que, só quando a vida adulta já estava consolidada, se interessaram em saber como as coisas gostosas vão parar no garfo. Para quem estima a conquista coletiva, o verão é um prato cheio.
Para um gourmand que gosta de pôr a mão na massa, as sequências de refeições em grande escala nesta época do ano são um parque. Não ter medo de calor é pré-requisito básico para entrar na brincadeira tal como a altura não pode ser um problema a quem arriscará a estabilidade estomacal numa montanha-russa. Para driblar um ano inteiro de refeições minguadas, vale o esforço pela mesa farta de insumos que se contam sempre aos quilos. A diversão está garantida caso haja companhia de alguém que também desfrute dos prazeres que um fogão quente pode proporcionar. Apesar de, aparentemente, cozinhar ter se tornado moda nos últimos tempos, ainda não é tão habitual encontrar parcerias para preparos caseiros quando cada vez mais gente pensa que é comida o que está dentro de pacotes a serem aquecidos no micro-ondas.
Enquanto preparamos o mise en place – que é deixar tudo picado e separado no estilo programa de televisão – a muitas mãos, há sempre garantia de boa conversa. Algum gadget novo para a cozinha, a realização do sonho da robusta batedeira própria, uma nova loja que vende farinha de trigo com percentual de proteína mais alto que os habituais disponíveis nos supermercados. Enquanto isso, a magia entre forno, frigideiras, caçarolas e panelas se desenrola. É nesta hora que surgem os pitaqueiros. Geralmente brotam quando a cebola começa a dourar. Entendem o aroma como um convite à mesa, quando, na verdade, é um falso cognato. Já que estão na cozinha, tratam de sugerir métodos de cocção, temperos e tudo do que não entendem. Poderiam aprender, processo natural a quem exibe desenvoltura com cutelos, mas preferem o caminho mais curto. Às vezes é possível ser simpática e dispensá-los com delicadeza, a exceção é quando sugerem encher a panela de água para preparar camarão ao bafo. Às favas com caldo de camarão.
Além de preparar a refeição, alegria para o chef de casa é ver a mesa cheia, gente esquecendo das regras de etiqueta diante de um prato bem feito, que não precisa ser sinônimo de comida cara ou sofisticada. Glutões repetindo pela terceira vez e brigando pela última colherada. Quando isso acontece, sabe-se que foram todos conquistados pela alquimia do cozinheiro. Satisfação garantida a quem come e a quem faz.
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