Nas últimas décadas o Itajaí-Açu não tem vivido o protagonismo que merece. Mas essa fase da história do imponente e importante rio dá sinais de que está chegando ao fim. Ainda que valorizar o rio seja bem mais do que voltarmos nossos olhos a ele para o lazer, iniciativas como o Blumenau a Bordo dão esperança de que um dia possamos reviver o que as fotos em preto e branco contam: gente feliz dando sentido à alcunha Prainha na emblemática curva do rio que está enredado em nossa história.

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O Vale, que não é da Europa (como já conversamos por aqui), mas sim do Itajaí, não seria o mesmo sem este senhor marrom que de vez em quando alguém pinta de azul nas fotos. É por ele que começa a colonização dos imigrantes teutos. Giralda Seyferth, importante pesquisadora da imigração alemã na região, conta em sua extensa obra o quão significativo foi o Itajaí desde antes dos imigrantes chegarem por aqui. Aos índios e caboclos o rio era garantia de comunicação, terra fértil nas várzeas para pequenas lavouras, além de fonte de alimento e água. Não foi diferente aos imigrantes que chegaram por aqui no século 19, como conta Seyferth no livro A Imigração Alemã no Vale do Itajaí-Mirim.

Um dos principais interesses do governo da época em colonizar a área que hoje é o Vale do Itajaí foi ligar a capital, Desterro, com a região Serrana, então forte produtora de gado. Os rios que cruzavam esse território pareceram bons meios de se alcançar o objetivo. Primeiro tentaram pelo Itajaí-Mirim, em Brusque. Na primeira metade do século 19 uma expedição seguiu o curso do rio para averiguar se chegariam à Serra. Com a negativa, avançaram para o Itajaí-Açu. Na região algumas colônias já estavam instaladas quando Blumenau retornou ao Brasil em 1850 com 17 imigrantes. Nem todas alcançaram o sucesso desejado, como a colônia do belga Charles van Lede, que deu início ao que é hoje o município de Ilhota.

Como nos contam desde o ensino básico, foi pelo Itajaí-Açu que Dr. Blumenau navegou e aportou, após longuíssima viagem, na foz do ribeirão da Velha. E foi ao redor do rio que a cidade surgiu pouco a pouco. O Stadpltaz (centro da colônia) foi estabelecido onde também foi feito o porto – que funcionou até as primeiras décadas do século 20 _ justo onde o rio tinha condições de ser navegado por embarcações maiores. Os lotes vendidos aos colonos na Colônia Blumenau tinham sempre como limites ribeirões ou mesmo o próprio Itajaí-Açu. Além de garantir a comunicação (transporte por meio de canoas), era essencial às plantações, cuidados aos animais e às necessidades básicas das famílias. Foi margeando o rio – e seus afluentes – que a colônia abriu caminhos em direção à Serra. Esse caminho sinuoso que se enrosca com o rio garante belas imagens aos transeuntes mais atentos da BR-470.

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Voltar a olhar para o rio além dos períodos de enchentes – que sempre aconteceram, nós é que não estávamos aqui, vale lembrar – pode ser o início de uma nova relação. O desejo é que não pare por aí. A degradação das margens e da qualidade da água são só a ponta do iceberg de problemas que o afetam, como nos alertam os ambientalistas há tanto tempo. O protagonista de nossa história merece ser tratado como tal.