Ontem, 20 de novembro, foi Dia da Consciência Negra. A data fomenta (deveria, ao menos) discussões importantes num país que tem mais da metade da população autodeclarada negra, mas que ainda pouco faz para combater o racismo e corrigir problemas históricos. Blumenau não é diferente. É necessária a reflexão. Hoje, no Brasil, Emicida é uma das vozes jovens que ecoam o alerta à contradição do racismo enraizado na cultura de um país essencialmente negro. Rapper da periferia de São Paulo, foi finalista do Grammy Latino com o álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa. A história transborda injustiças, não cometeria mais uma. À voz que tem ecoado dentro e fora da periferia, abro espaço.

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Durante o programa Altas Horas, o rapper questionou a diversidade, usada com frequência para adjetivar o país: “Sinto que o Brasil tem uma dívida com a diversidade, mais do que uma vocação, porque ele não exerce essa vocação. O Brasil aplaude a miscigenação quando ela clareia; quando ela escurece, o país condena. Essa ideia de democracia racial que foi construída, de que o Brasil é o paraíso das três raças, não é uma verdade quando você tem a pele escura. E a gente tem essa cultura no Brasil, da opressão gritar e o oprimido ficar calado se sentido errado. Isso é uma doença que precisa ser combatida. A pessoa foi discriminada e colocada para fora de um banco porque a pele dela é preta. Mas vão dizer ?não é assim, é porque você estava de boné, porque você estava de tênis, porque você estava com moletom, porque você estava com uma mochila?. Não. Você sabe que o táxi não para para você, mas a viatura para. Esse é problema urgente do Brasil.”

Na TV Carta explicou a democracia racial. “O Brasil é construído em cima dessa ideia da democracia racial. Então você tem o negro, o branco e o índio vivendo harmonicamente. Só que essa harmonia nunca foi exaltada pelo preto e pelo índio. Quem se orgulha dessa pirâmide estar orquestrada desse jeito, em tese, de uma forma harmônica, sempre são as pessoas brancas. E esse é o problema mais sério. Essas outras duas perspectivas são fundamentais para construir um panorama real do que é o Brasil que a gente vive. O problema é que elas nunca estão presentes nessa discussão”.

Maurício Pestana, secretário de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, em artigo publicado ontem, argumenta com informações oficiais o que a população negra sabe há muito. Os negros são 76% dos mais pobres, o que significa dizer que três em cada quatro pessoas que estão no grupo dos 10% mais pobres são negras. Possuem renda média 2,5 vezes menor que a população branca e somam mais de 60% da população penitenciária. Os jovens negros brasileiros são 77% das pessoas assassinadas todo ano no país – um jovem negro é morto a cada 23 minutos.

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O Dia da Consciência Negra é necessário para que, quem sabe, um dia a única diferença entre brancos e negros seja, finalmente, só a melanina. Até lá, há muito a ser corrigido.