Toda vez que leio algo sobre os tais millennials sinto uma fisgada. As generalizações, sabemos, são burras e tenho tendência a discordar dos adjetivos para esta geração que nasceu entre 1980 e meados da década de 1990. Dizem que é preguiçosa, mimada, troca de emprego como se fosse de roupa, são viciados em tecnologia, buscam satisfação em tudo. Nunca me entendi como fiel representante, mas um sorriso e o tratamento pelo nome me fizeram despertar para a realidade de que pertenço à geração que está mergulhada nas profundas mudanças que a tecnologia e seus usuários estão impondo a diferentes setores.

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Ao romper o vínculo temporariamente com minha carteira de trabalho, tratei de aplicar meus minutos em coisas que me interessam – sou mais millennial do que acredito, concluo neste instante. Andar mais na rua, usar a bicicleta como transporte, valorizar produtores locais. Sem notar, pouco a pouco, fui criando relações.

Na feira, compro pão de fermentação natural, café moído na hora, frutas e hortaliças de um pequeno produtor da Vila Itoupava. Apesar da minha profissão supor o contrário, sou de natureza tímida. Sem o crachá no pescoço, trato de puxar conversa só quando necessário. Minha lógica foi, compra após compra, subvertida. Impossível deixar de jogar conversa fora com quem me recebe pelo nome. Presto atenção na explicação da pessoa que passou a madrugada fazendo pães para vender os possíveis motivos pelos quais os meus próprios vez ou outra ficam solados. A percepção da proximidade que esse tipo de comércio proporciona ficou lívida quando a vendedora, além de me atender pelo nome, sugeriu peças novas que tinham a ver com meu gosto. Imagino que era esse tipo de relação que minha avó tinha com os vendedores no interior. Porém, entre as nossas gerações, há (muitas) diferenças.

Os millennials que vivem em áreas urbanas cresceram habituados a frequentar grandes supermercados e lojas fast fashion em que a impessoalidade dá o mote ao atendimento. Fato que persiste, mas ganha novos contornos quando, com a ajuda da tecnologia, posso optar com facilidade onde vou consumir: se numa loja online chinesa que envia sem cobrar frete ou numa da esquina, que acompanho nas redes sociais que produz com valor agregado, emprega mão de obra local e usa insumos da região. Há uma internet inteira que separa a realidade que a minha avó viveu e a minha, ainda que o resultado seja parecido. É o comércio 2.0 imposto pelos millennials.

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