Pois lembrei dessa teoria capaz de arrancar debates quentes nos bancos universitários pensando sobre o fim de ano. Caso fosse honesta, confessaria que há uns pares de anos não consigo entrar no clima desta época. Prefiro, temporariamente, ao menos, a falsidade em troca de algum sossego natalino. Caso contrário, estaria fadada às explicações e orelhas vermelhas por ter me rebelado contra amigos-secretos, festas de encerramento, jantares natalinos e de banquetes de Réveillon. Escorrego, então, no último mês do calendário com sorriso tão verdadeiro quanto os de porcelana que lotam o Instagram.

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Nos últimos anos, Papai Noel é quem deu um jeito de tirar à força Fritz e Fridas das vitrines. Eles até convivem por um tempo, mas logo o Velhinho torna-se soberano. Novembro dobra a esquina e entramos na roda da ansiedade de mil festas de encerramento. Há alguma histeria coletiva para, talvez, aproveitar tudo o que não foi possível durante o ano. Poderíamos fazer festas de “continuidade”. Comemorar a amizade com colegas de trabalho, patotas de futebol, da escola, da universidade durante o ano. Não precisaríamos esperar dezembro para revelar algum elogio ao amigo não necessariamente secreto. Trocamos críticas com frequência. Elogios, raramente. Poderíamos colocar nossas melhores roupas, servir a melhor comida e comungar em família, sem data marcada no calendário para isso. Uma vez a cada 12 meses é muito pouco. No fim do ano entramos numa esteira automática em que comprar é sinônimo de existir.

Será que precisamos de roupas novas se o guarda-roupas está abarrotado? Um computador novo se o antigo segue funcionando? Celular de última geração se o anterior não dá sinais de fraquejar? Bolsas e sapatos da moda que alguma blogueira foi paga para aparecer com os itens como se nada fosse para apetecer o desejo alheio? Carro zero quilômetro se o que está na garagem continua rodando com segurança? Mais um livro para a pilha de futuras leituras? Não somos nós que estamos fazendo nosso agendamento temático de fim de ano. Quem será?

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