Tudo soa tão antigo, mas basta conferir o calendário: estamos mesmo em 2016. Parece que seguimos em contrapassos. Evoluímos, claro. A internet está aí, quase tão onipresente quanto dizem que Ele está, vacinas e mais vacinas, erradicamos doenças, pousamos a curiosidade em Marte. Mas 30% da comida do mundo ainda é desperdiçada, 75% da população não consegue fazer cálculos básicos de matemática. Conjugação do verbo haver, crase, moradia decente e saneamento básico são mistérios a muitos de nós. E agora nossa democracia sofre com a violência doméstica. As eleições têm me feito pensar que estamos no meio de um passo que custa a ser concluído. Uma perna presa no passado e a outra querendo caminhar para frente. No meio, nós, na vertigem do desequilíbrio.

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Faz-se eleições como há muito. Pelo menos desde que me lembro e ouço falar. A fórmula é sempre igual. Não raro é avistar um bando em busca de votos à deriva. Seguem o caminho do candidato. Ele vai sempre à frente, sorridente, adesivo com algum número colado no peito. Apertos de mão, conversa amistosa, abraços em gente desconhecida – mas que no minuto seguinte é o novo velho amigo -, cafezinhos nos confins do município, criança no colo. Um quadro padrão, que, mudando a cor da camisa – que varia pouco entre o azul anil, xadrez moderninho ou branca – e a composição do adesivo, vale para quase todos. Por que nossas eleições ainda são assim?

Na televisão, a cidade que aparece não é a mesma em que vivo. A Blumenau da realidade não é tão boa quanto nem tão ruim quanto querem dizer. A fórmula pronta da campanha também vai para a TV. Camisa social, crianças sorrindo, música alegre de fundo, candidato com oratória impecável. E pensar que na decisão de quem vai se juntar a quem nas eleições não pesam propósitos, ideais ou filosofia. Minutos de TV e contabilidade de votos possíveis são mais importantes do que convicções políticas – se é que elas ainda têm alguma importância. Sou teimosa em minha inocência quase infantil, sei bem.

Quando pensamos que o sapato do pé de trás está querendo sair do chão para concluir o passo, encontra-se, sem querer, um chiclete que o mantém preso. Voto ainda é moeda. Troca-se por remédio, um tanto de asfalto fino na frente de casa ou qualquer outra coisa menos importante que o voto. Não há corrupto sem que alguém seja corruptível. A corrupção é um barco que precisa de, no mínimo, dois marujos. Deixemos de lado o pessimismo.

Ignoramos o poder de marketing político milionário, não nos iludimos pela seriedade que querem vender usando uma coleção infinita de camisas azuis, desprezamos as calúnias que alagam as redes sociais nesta época. Fazemos nossa lição de casa. Pesquisamos o passado de fulano, assistimos a tudo com critério, tapa nas costas e sorriso fácil não ganham voto. Se o candidato vencer, torça (e cobre) para que a novela não se repita. Uniões baseadas em interesses próprios, críticas vazias na tribuna com intenção de só denegrir – e não construir -, briga em frente às câmeras e brincadeiras amistosas atrás delas. Anseio que o passado vá embora, mas a verdade é que ele nunca esteve tão presente.

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