Outro dia assistia a uma entrevista num jornal local sobre a limpeza da Oktoberfest, que já dobra a esquina no calendário. Tudo está automatizado, contava, orgulhoso, o responsável pelo setor. Aspiradores, limpadores de banheiro, máquina para ajuntar copos. Máquina especial para limpar vômito. Vômito falado na TV, ao meio-dia. O repórter até tentou, mas não conseguiu fazer o senhor mudar de item a ser limpado. Numa festa em que o chope é carro-chefe e a bebedeira é consequência frequente, normal que haja vômito nos cantos e banheiros. Naturalizamos tomar canecos de meio litro com bebida alcoólica – que pode ser muito boa, ok, mas não deixa de ter seus efeitos quando consumida em excesso. E, nesse caso, um caneco já pode ser pensado como excesso. Falar dos efeitos da bebedeira em público é um tabu, ainda mais numa cidade que celebra uma bebida que, se consumida sem cuidado, tem efeitos nada agradáveis.

Continua depois da publicidade

Quando o bebedor é o único afetado, os problemas são menores. A verdade é que normalmente alguém bêbado com escolhas ruins pode desencadear uma série de fatos negativos. Como quase abstêmia – meus copos com bebida alcoólica não ultrapassam os dedos de uma mão em 12 meses –, me espanta a naturalidade com que tratamos a combinação álcool e direção. Nem me refiro a gente distante. Falo de família, amigos próximos, colegas de trabalho e estudo. Como eterna motorista da rodada, a atenção durante a madrugada ao volante tem de ser redobrada. Pelo caminho há sempre alguém que bebeu e julgou estar ótimo para dirigir.

Os dados apresentados pelo Santa na última semana chocam, mas não espantam. A manchete foi clara: maioria dos acidentes de trânsito é causada por álcool ao volante. Embriaguez ao volante é o motivo que ocasiona sete em cada dez denúncias do Ministério Público por crimes de trânsito cometidos em Santa Catarina. Pelo menos dois terços dos 5,3 mil crimes de trânsito têm o álcool por trás. Crimes que deixam rastro de muita gente ferida, mortos e famílias destroçadas.

O mês começa e já temos a certeza de que muita bebida sairá das chopeiras espalhadas pelo Estado. O que é muito bom, não sejamos hipócritas: as cervejarias já movimentam um mercado importante para a economia, empregam muita gente, sustentam serviços especializados, escolas e um sem-número de negócios. Não dá para negar, por outro lado, que muita gente senta atrás do volante depois de muitos copos de cerveja vertidos garganta abaixo. Muitos desses não acumularam miligramas de álcool por litro de ar alveolar só com cervejas feitas de milho e fermentação artificial. Passos tortos também têm bom lúpulo e brassagens cuidadosas por trás.

A escolha de como vai terminar o chopinho com os amigos, a festa de aniversário ou uma noite na Oktoberfest tem de ser tomada antes que a primeira gota de álcool encoste na língua. Os dados revelam uma pequena parte da irresponsabilidade que transborda nas ruas. Quem bebe e dirige assume o risco dessa mistura ainda são. Há responsabilidade do poder público, que peca no cerco para evitar essas atitudes. Não se pode eximir, entretanto, a consciência de quem tem a chave do carro numa mão e o caneco noutra. É uma questão de escolha.

Continua depois da publicidade