O ano é novo, mas o assunto, velho. Caso nutrisse devoção, teria acendido vela prometendo que ignoraria mensagens de correntes enviadas via WhatsApp. Fui forte. Mas fraquejei. Assinei minha recomendação de saída do grupo da família ao sugerir que os repetitivos textos fossem conferidos, pois são, em muitos casos, boatos ou estão cheios de equívocos risíveis. Do Fla-Flu político – nutrido muito à base de desinformação – à mudança na cor do aplicativo.
Continua depois da publicidade
Com as mãos cheias de sacolas e um longo percurso à frente até o alívio, meu vizinho de fila dotado de um carrinho ofereceu algum espaço. Nestas situações, as regras sociais não ditas orientam que é simpático conversar amistosamente. Tudo teria corrido bem caso aquele senhor tivesse, como de hábito entre pessoas que não se conhecem, trocado palavras sobre amenidade qualquer. O calor, a beleza das uvas verdes, o preço da cebola roxa, a falta da banana-da-terra. Logo lançou: a Polícia Federal não poderia mais investigar ninguém em Brasília por conta de uma MP assinada pela presidente. Tentou decifrar minha reação. Já reparou como a transparência de sentimentos permeia entre o defeito e a virtude?
Leia outros artigos da colunista Daniela Matthes
Respondi que costumo acompanhar as notícias na imprensa e que certamente um assunto tão grave estaria nas manchetes, o que não vi. Questionei a fonte e ele não titubeou: recebeu no Zap Zap. A maior parte do que circula por lá tem informações equivocadas ou falsas, respondi, sem prólogo. Aquele belo par de olhos verdes arregalou-se. Desconhecidos em filas têm costumeira polidez, o que, por hora, faltou-me. Justificou que a fonte era de confiança, uma velha amiga. Seguiu apenas silêncio entre nós após perguntar se a amiga de confiança verificou as informações antes de repassá-las como verdadeiras.
Por inocência, ignorância ou má-fé, estas posturas que brotam em timelines e notificações de mensagem não condizem com um mundo que caminha rápido para ainda mais conectividade e tecnologização digital. O Fórum Econômico Mundial fez alertas sobre as mudanças que a Quarta Revolução Industrial está trazendo. Saber manipular gadgets não é suficiente para estar preparado ao futuro tão próximo. Não sabemos processar as informações que recebemos.
Continua depois da publicidade
A forma de enviar a mensagem mudou, mas não o conteúdo nem o jeito de concebê-la. Desinformações e boatos saíram do meio físico para o digital. Em ano eleitoral, um prato cheio para semear ainda mais ódio e criar um falso – e perigoso – senso de politização. Munir-se de fontes confiáveis, ainda que até grandes veículos de comunicação volta e meia estejam caindo nessas armadilhas, e pensar (pesquisar, conferir etc.) antes de compartilhar podem ser o início de uma postura diferente no meio digital. Por consequência, no físico.