Observando os cartazes da Oktoberfest de Blumenau desde a primeira edição, é possível notar que a comida demorou muito a conquistar seu espaço como atrativo ao lado do chope. Vovô Chopão e seu caneco cheio erguido foram onipresentes por algum tempo. Por outro tanto, o chope reinou sozinho, com raras exceções. Só em 2004, duas décadas após a primeira edição da festa, é que a comida ganhou um espacinho nas peças de divulgação. Dois anos depois, os pratos “típicos” – aqui sem entrar no mérito do termo – ganharam visibilidade e um cartaz só para eles. Marreco recheado, repolho roxo, purê de maçã e salsichões ladeados por dois generosos canecos de chope – sempre ele, claro.

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Minha base de comparação é relativamente frágil, confesso. Como foliã antiga da Oktoberfest – e talvez, por isso, pouco assídua nos últimos anos – tentei recordar o que se comia em outubro na primeira metade dos 1990. Traída pela memória, só consigo lembrar de rodar infinitamente num vestido rosa nos pavilhões não muito cheios da Proeb e brincar com um enorme balão de salsichão feito de plástico fino e seco. Pelo que já ouvi e pesquisei, a comida, como sugeriam os cartazes, não era atração. Variava entre fast-food – os mais vendidos – e os pratos elencados como típicos.

Voltando à Oktoberfest do novo milênio, as coisas em relação à comida mudaram e mais especificamente nesta década. O Biergarten, mais do que um espaço para comer com algum conforto, é um convite ao que as refeições sugerem desde sempre – além de nutrir o corpo, também uma oportunidade para alimentar as relações. Neste caso, com o adicional de música e dança, claro. Com cada comida ganhando uma casa (haus), escolher o prato ficou mais fácil e tornou-se uma oportunidade de aprender alemão – ou apenas tentar pronunciar nomes complexos.

Ainda que se diga para o turista que a comida vendida na Oktoberfest é típica alemã, a verdade é que nem típica blumenauense é. Pode-se arriscar que é típica da Oktoberfest de Blumenau. Uma mistura de referências, portanto. O que não é ruim. Como apreciadora de batata recheada, fico feliz que alguém tenha tido a ideia que trazer para estas bandas uma invenção que não tem origem certa. Com o avançar da comida como atrativo da festa, nota-se um nicho a ser valorizado: a comida local para além da linguiça blumenau. Basta ir a qualquer feira livre para ver que temos uma culinária e produtos locais bastante particulares. Levar isso à festa ou, de alguma forma, apresentar ao turista, é reconhecer os produtos regionais, feitos por pequenos produtores, que, com esforço, mantêm vivas tradições alimentares e a partir disso tiram sustento. Dar visibilidade a produtos como o Kochkäse – que segue no impasse da legislação –, por exemplo, é oferecer subsídios para que agricultores familiares possam reproduzir seu modo de vida, o que impacta toda a região, incluindo os moradores da área urbana. Kochkäse Haus poderia ser mais um trava-língua para turista tentar falar – e degustar.

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