Estamos no meio de um tiroteio. Não me refiro ao literal, em que as comunidades periféricas brasileiras estão, infelizmente, acostumadas. No sentido figurado, não falo dos jatos de água que saem de Curitiba mirando Brasília. Poderia me referir ao tiroteio sem fim de corrupção. O tiroteio, neste caso, é de notícias. As falsas é que fazem sangrar o leitor sem coletes que se aventura na selva que está se tornando a internet.
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O problema não é a rede. Ela é só a plataforma que está potencializando o que há de ruim. E de bom também, claro. A questão é como nós a usamos. E aqui me incluo nos dois sentidos que posso atribuir ao coletivo. Cursei Jornalismo mirando a – bastante utópica – ideia de contribuir minimamente para um mundo melhor, como muitos colegas quando tinham 17 anos. Mas não é difícil enumerar quantos jornalistas estão seguindo na contramão do que motivou muitos nós a passar quatro anos aprendendo sobre o lead ideal e como impostar a voz em rádio. Esquecem as aulas de ética e usam o que aprenderam para fazer o contrário do que deveriam, gerando desinformação. Parece que começaram a puxar o freio desse trem descarrilado.
Depois da acusação de que notícias falsas que circulam no Facebook teriam influenciado diretamente a eleição de Donald Trump, a rede social – que galga para ser muito mais que isso- anunciou ações na tentativa de controlar a circulação de notícias falsas. Entre as sete medidas prometidas, cinco têm relação direta com o algoritmo da rede, tentando cercear a divulgação do que, digamos, é deficiente de verdade. Mas o que deve fazer diferença para o leitor envolve ações que colocam os jornalistas no lugar de onde nunca deveriam ter saído. Zuckerberg propôs parcerias com organizações que trabalham com checagem de notícias e com jornalistas para aprender detalhes sobre como confirmar -ou não – fatos. Ao mesmo tempo, o Google também anunciou que dificultará a vida de sites de notícias falsas. A ideia é reduzir a receita de publicidade. Se tudo isso vai dar certo, só o tempo dirá. Melhor aquecer a água para o mate, ter paciência e vestir o colete.
Enquanto há sinais de que notícias falsas terão menos espaço nas duas das maiores plataformas de difusão de tudo que circula na internet, no campo minado do WhatsApp as coisas só pioram. Uma terra de ninguém, onde notícias falsas têm campo fértil para proliferar. Esquecendo o contexto desastroso, chega a ser engraçado. Outro dia recebi o texto de suposta autoria de Míriam Leitão dizendo que se arrependia de ter lutado contra a ditadura militar. Quem costuma ler os textos de Míriam percebe na primeira linha que ela não escreveria aquilo. A jornalista publicou em março, no blog que tem no site do jornal O Globo, que o artigo era mentiroso. Logo o esclarecimento completa um ano e certo que milhares continuarão acreditando na falácia.
Tanto na vida online quanto na off as mentiras se espalham mais rápido do que bala. Desconfiar do que circula sem fonte ou com origem duvidosa e acompanhar quem faz jornalismo sério são alternativas para não sair ferido desse tiroteio que não tem previsão para acabar.
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