As suspeitas de que a morte de Fetiere Sterlin possa ser resultado de um crime de xenofobia são assustadoramente plausíveis. Cultuamos o ódio. Fechados em nosso estereótipo de receptividade, nós, brasileiros, mantivemos o preconceito que ronda nossas ruas quase que “escondido” do resto do mundo. Desnudo, apenas, para quem o sente na pele. Mas presente e latente.
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Estivemos de braços abertos para os imigrantes que fugiram da miséria e da guerra na Europa, décadas atrás. Mas não temos a mesma boa vontade para com os irmãos que, agora, nos batem à porta em busca de uma vida mais digna.
Tive a missão de reportar, em 2011, a chegada dos primeiros haitianos ao Estado, contratados por uma empresa de Navegantes (a mesma cidade que vitimou Fetiere no fim de semana). Ouvi relatos de dor, sofrimento, e alegria pelo encontro, enfim, de um “p0rto seguro”.
De lá para cá a imigração cresceu e a receptividade parecer ter reduzido na mesma proporção. Embora trabalhos dignos de registro como o que tem sido feito pela Univali garantam direitos e cidadania aos novos brasileiros, é inegável que existe uma sombra de preconceito, alimentada pelo ódio criminoso daqueles que acusam os imigrantes de terem vindo ao país para formar exércitos (acredite!) ou “roubar” (sub) empregos.
Os disseminadores do ódio, principalmente nas redes sociais, pareciam inofensivos. Não o são.
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Segundo o relato da esposa de Fetiere, o imigrante ouviu um “volte pra terra de vocês” enquanto era atacado. Talvez os adolescentes que, segundo a polícia, seriam responsáveis por essa atrocidade, não sejam os mesmos que espalham esse discurso. Mas certamente foram atingidos e motivados pela xenofobia que nos ronda.
Aos irmãos haitianos, só podemos pedir desculpas. E nos comprometer a garantir que situações como essa nunca mais se repitam.