Apesar de Maicon Francisco de Andrade, 18 anos, ter sido condenado a 50 anos de prisão, em agosto do ano passado, a família permanece com o sentimento de injustiça. Maicon assumiu sozinho a responsabilidade pela morte brutal do casal de idosos Miguel de Souza de Oliveira, 67 anos, e Maria José Vieira de Oliveira, 69, em janeiro do ano passado, no bairro Paranaguamirim.

Continua depois da publicidade

Mas isso não convenceu o neto do casal, Jackson Lopes, 26 anos. O casal faz parte da lista de 70 homicídios que aconteceram em Joinville em 2012, segundo registros de “A Notícia”.

Foram duas a mais que em 2011 e dez a menos que em 2010. No total, morreram 58 homens, 11 mulheres e uma criança. Destes, 11 em confronto com a polícia, número que superou 2011 (dois a mais) e que pode ser considerado o maior da história. Longe da frieza dos números, dezenas de famílas sentem o gosto amargo de perder um ente querido de uma forma tão trágica.

– O Natal foi bem murcho, sem ter como comemorar muito – disse Jackson, lembrando que a família tinha o costume de passar as datas festivas na casa dos avós, já que dona Zeza gostava muito de cozinhar.

Continua depois da publicidade

Este sentimento se mistura com um quê de que o crime não foi totalmente solucionado.

– O meu avô era idoso, mas era um homem forte, a minha tia também, por isso que ninguém me tira da cabeça que ele sozinho (Maicon) não ia conseguir fazer aquilo – desabafou, referindo-se ao fato de Eliseu Antônio de Carvalho, 20 anos, ter sido absolvido por falta de provas.

– Acho que foi injustiça. Se fosse um rico eles tinham ido atrás. Achei que deveriam ter ido mais fundo. Como ele assumiu a culpa, a polícia deu por encerrado. Eu garanto que se fosse mais a fundo seria diferente – emendou.

Jackson conta que o dia mais complicado para ele depois dos assassinatos foi o julgamento.

– Ver ele lá e não poder fazer nada, foi bem difícil – desabafa.

A maioria dos familiares evita ir até a casa mesmo um ano depois da tragédia. Os filhos decidiram alugar o imóvel no Paranaguamirim e não pensam em vender no momento. Jackson diz que prefere não passar na antiga casa dos avós.

Continua depois da publicidade

– A minha mãe passa por lá todo dia. Eu, só de olhar, me dá um ruim – confidencia.

Para Jackson vão ficar as lembranças boas do avô, que era um grande companheiro e fã da comidinha da avó.

– Lembro muito do meu vô, porque eu conversava muito com ele. Quando eu me apertava, ele que me dava conselho. Até porque fui criado afastado do meu pai – conta, com carinho. ???

Paranaguamirim registra o maior número de homicídios

O bairro com maior índice de homicídios é justamente o Paranaguamirim, com 12 registros. O casal Miguel e Maria José foi um dos casos. O número, aliás, reflete uma tendência dos últimos anos. Desde 2009, quando “ultrapassou” o Jardim Paraíso, pulando do quarto para o primeiro lugar, o bairro da zona Sul lidera esta triste estatística. Mas a Polícia Militar acredita que este número não reflete uma realidade violenta no bairro.

Continua depois da publicidade

– O que acontece em bairros como este e o Itinga, por exemplo, é que muitos corpos são encontrados no local, mas não significa necessariamente que o crime foi naquela localidade – comenta o comandante da 5ª Regional da PM, coronel Cantalício de Oliveira.

– Por isso, não dá para dizer que este número é um indicativo de que esta é a local mais violento da cidade – emendou.

Neste ano, também houve aumento no número de mortes em confronto com a polícia. Foram 11 pessoas atingidas por disparados de armas da PM. Cantalício disse que não dá para se considerar um número alarmante, até porque, segundo ele, na grande maioria dos casos, as vítimas reagem à abordagem policial.

Continua depois da publicidade

– A PM tem legitimidade para agir desta forma nestes casos. Afinal, um indivíduo armado oferece perigo não apenas aos policiais, mas também a terceiros – explica o coronel.

Ele comentou também que todos os casos são investigados e possíveis abusos serão punidos.