O painel de instrumentos da economia brasileira confirma: após um longo período de desaceleração iniciado na largada de 2011, uma série de indicadores divulgados este mês aponta para uma retomada das atividades.
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Desde o avanço de 9,6% nas vendas de papelão ondulado em agosto, dado considerado um termômetro por refletir a expectativa da indústria que precisa embalar mercadorias, passando pelo desempenho do comércio e pela prévia do PIB, números, índices e percentuais interpretados por especialistas indicam um ritmo forte de recuperação.
Otimista, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, sustenta que o país já cresce neste trimestre a uma taxa anualizada de 4%. É uma arrancada significativa, já que no intervalo de 12 meses entre julho de 2011 e junho deste ano, a expansão foi de apenas 1,2%. Mais cauteloso, o economista Luiz Rabi, da empresa de análise de crédito Serasa Experian, avalia que esse ritmo será alcançado nos últimos três meses do ano.
De qualquer forma, há unanimidade em creditar a reação a uma conjunção de fatores como a continuidade da queda do desemprego, às negociações salariais favoráveis aos trabalhadores, queda dos juros e medidas de estímulo como o corte do IPI. Dessa forma, acrescenta Barros, a indústria reduz estoques e, no fim do ano, o setor mais abalado pela crise poderá equilibrar a demanda com o nível de atividade:
– No fim de ano, a economia apresentará um bom desempenho influenciado pelo consumo das famílias, que por efeito da renda deve crescer 1,3% no quarto trimestre contra o anterior.
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Para Rabi, da Serasa, os índices de atividade do comércio e de busca por crédito para financiar o consumo também refletem o novo momento. Nos próximos meses, espera que indústria, consumo e investimentos decolem e puxem a atividade.
– Quando a economia se recupera, é no consumo que isso aparece primeiro. Há uma defasagem entre o início das medidas e os efeitos – observa.
Marcelo Portugal, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cita ainda indicadores como maior trânsito de veículos pesados nas estradas e crescimento do uso de energia pela indústria como sintomas de que o país voltou a engrenar. O Estado também será beneficiado pela reversão no quadro, mas não a ponto de recuperar os prejuízos da seca,diz:
– O Rio Grande do Sul não consegue fechar o ano no positivo. Na melhor das hipóteses, chega a zero.
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Salvo novos solavancos, o Estado terá um “salto brutal” no PIB em 2013, diz Portugal. O resultado, porém, deve ter como principal causa a baixa base de comparação com 2012.
O crescimento anualizado de 4% que deve ser verificado até dezembro, levando o Brasil a virar o calendário em um ritmo de expansão bem mais acelerado, também é a aposta para o avanço do PIB para o próximo ano. As ressalvas ficam por conta de um inesperado recrudescimento da crise internacional ou então por uma necessidade de o Banco Central (BC), devido à ameaça da inflação, voltar a subir o juro.
Na avaliação de Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, além de possíveis turbulências na Europa existe a preocupação com uma desaceleração da China. Para o banco, a pressão dos preços deve fazer o BC elevar em um ponto percentual a Selic em 2013. Luiz Rabi, economista da Serasa, aposta que o juro básico da economia só deve subir se a inflação escapar da casa dos 6%, aproximando-se do teto da meta de 6,5%. Nos últimos 12 meses encerrados em agosto, o IPCA, pressionado pelos alimentos, ficou 5,24%.
– Este governo é bem mais tolerante à inflação do que o passado – observa o economista Marcelo Portugal, professor da UFRGS.
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CONFIRA OS INDICADORES
Atividade econômica
Junho: 0,3%
Julho: 1,6%
Indicador da Serasa Experian sobre nível de atividade teve avanço em junho e julho em relação a iguais meses do ano anterior.
Atividade no comércio
Julho: 1,4%
Agosto: 2%
Aumentaram as consultas ao serviço de proteção ao crédito, mostrando volta das intenções de compra.
Vendas no comércio
Junho: 1,5%
Julho: 1,4%
Indicador do IBGE mostra que nos últimos dois meses as vendas voltaram a subir depois de retração de 0,8% em maio.
Confiança da indústria
Agosto: 104,1 pontos
Setembro: 105 pontos
Sondagem da Fundação Getulio Vargas mostra que empresários do setor, o mais afetado pela crise, estão mais esperançosos em relação aos negócios.
Confiança do pequeno e médio empresário
Para o 3º trimestre: 71,2 pontos
Para o 4º trimestre: 74,1 pontos
Levantamento do Insper e do Santander mostra a percepção de menos riscos para a economia brasileira, sendo os empresários do comércio os mais otimistas.
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Embalado para o futuro
Julho: 122,11 pontos
Agosto: 133,84 pontos
Subiu o índice de expedição de papelão ondulado entre junho e julho, considerado indicador antecedente por estar presente na maioria das embalagens de produtos.