Carros-conceito servem para mostrar o que as montadoras pensam do futuro. Nem sempre serão produzidos em série, o que permite reunir as tendências mais fortes do momento em design, recursos e tecnologia. Os engenheiros dão asas à imaginação, sem muita preocupação com que as inovações tenham preço acessível ou se o visual se alinhe ao gosto da maioria dos clientes. Carros-conceito não precisam rodar nas ruas: têm de vender ideias.
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Quando a repercussão sugere à montadora que o modelo teria bons resultados nas concessionárias, começa a tarefa de adequar as ideias à realidade. No caso do cupê compacto Peugeot RCZ, foram dois anos. Concorrente dos Audi TT, VW Sirocco e BMW Cupê, sua tarefa não é apenas vender bem, mas dar um recado para o mercado da Peugeot, como disse o diretor global de relações externas e com a imprensa da montadora, Marc Bocque.
– Temos novas ambições. Queremos ser referência em estilo e líder global em serviços de mobilidade. Até 2015, pretendemos passar do décimo para o sétimo lugar em vendas entre as principais marcas mundiais – afirmou.
Carro muito especial
O RCZ é tudo menos um carro comum. Nos detalhes, percebe-se a importância do lançamento para a marca que completa 200 anos: é o primeiro modelo a vir com o leão reestilizado no capô e o primeiro Peugeot sem números no nome. Apesar de esportivo, teve investimento em tecnologia de redução de emissões de gases que diminuem o consumo e a poluição. A versão mais potente, de 200 cavalos, que será lançada no verão europeu, emite 159 g/km de gás carbônico (CO2), menos do que a versão com 156 cavalos. Na prancheta, está em estudo uma versão híbrida, que baixaria a emissão de CO2 para 95 g/km.
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Com previsão de vender 17 mil unidades no primeiro ano, o RCZ ainda não tem data de chegada ao Brasil. O cupê é produzido na fábrica da montadora austríaca Magna, com mais experiência em séries limitadas.
– Nosso grupo fabrica 3,4 milhões de carros por ano. Para o RCZ, queríamos a parceria de uma empresa acostumada à fabricação de pequenas séries, e as credenciais da Magna, que fabrica o Aston Martin, são indiscutíveis – disse Bocque.
Na Europa, o RCZ deve custar entre 27 mil e 30 mil euros. Os executivos da Peugeot pretendem manter essa faixa de preço, cerca de 20% menor do que o Audi TT, quando o carro vier ao Brasil.
Rápido e ágil, o esportivo RCZ não abre mão do conforto
No mapa, a orientação é fazer uma curva fechada logo depois do vilarejo de Bernedo Genevilla, no coração do País Basco, região da Espanha conhecida pela atuação do grupo separatista ETA e, cada vez mais, pelos vinhos que fazem as montanhas serem cobertas de parreirais ainda secos pelo rigoroso inverno europeu.
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Ao engatar a segunda marcha e fazer a curva, surge uma reta com mais ou menos três quilômetros, subindo mais um dos vários morros encontrados nos 250 quilômetros do percurso. A estrada, vazia em uma fria tarde de quarta-feira, convida a testar os 200 cavalos de potência do motor turbo a gasolina do RCZ, capaz de ir de 0 a 100 km/h em 7,5 segundos.
Desenvolvido em conjunto com a BMW, o motor de 1.6 é uma das estrelas do RCZ, mas não a única. Com seis marchas, é possível manter a rotação baixa mesmo em alta velocidade – a 170 km/h, o motor recém passou a marca das 3,5 mil rotações por minuto (RPM) -, mas isso não faz lá muito sentido quando se descobre uma das criações dos engenheiros da Peugeot mais curiosas. Um sistema de som captura o barulho do turbo e o amplifica para a cabine toda a vez que se pisa fundo. Esse recurso ilustra o conceito do RCZ: ser esportivo sem ser brucutu. O motor grita apenas na aceleração: quando se está em velocidade alta mas constante, não há ruído na cabine.
A estabilidade é marcante para um esportivo. A suspensão pseudo McPherson dianteira é firme, mas o sistema de amortecimento desenvolvido pela Peugeot torna o carro macio. Junte isso a um centro de gravidade mais baixo e pneus maiores – 18″ ou 19″ – e se tem um carro que não escapa mesmo em curvas rápidas.
Condução segura e ultrapassagens fáceis
O design impressiona, com o teto todo de vidro integrado por dois arcos de alumínio e um spoiler traseiro com dois estágios. A aerodinâmica é favorecida pelas linhas do carro, que tem 1,36m de altura. Apesar de baixo, a posição de dirigir é confortável e os espelhos externos garantem amplo campo de visão. Feito na mesma plataforma da berlina 308 e do crossover 3008, o RCZ traz como semelhança a carros mais “de passeio” o extremo conforto realçado por bancos anatômicos. Na versão testada por Zero Hora, o acabamento interno chamou a atenção, todo de couro e com painel em estilo clássico.
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A retomada de velocidade torna fáceis as ultrapassagens em espaços curtos, necessidade frequente nas serras da região espanhola de Rioja.
Nos trechos de autoestrada, uma atração foi o acionamento automático do spoiler traseiro. Com o RCZ parado, o aileron é integrado ao veículo, sem aparecer. Aos 85 km/h, levanta à primeira posição, em 19º. A segunda, de 34º, quando ultrapassa os 155km/h. Também pode ser acionado manualmente: afinal, como boa parte da graça para os interessados em um cupê confortável e ágil como o RCZ está em usá-lo no difícil trânsito das cidades, levantar o spoiler à hora que se desejar é uma necessidade. Estética apenas, mas convenhamos: seria uma pena desperdiçar uma característica tão legal.
Um sistema computadorizado reduz as consequências para o pedestre em caso de atropelamento. Quando os sensores na frente do veículo detectam uma colisão, o sistema eleva o capô até 55mm em um décimo de segundo, fazendo com que o carro, e não a pessoa, absorva a maior parte da energia do atropelamento.
Rodrigo Müzell viajou para Elciego a convite da Peugeot Brasil