Poucos cenários são tão fotografados no Litoral de Santa Catarina como a Praia Central de Balneário Camboriú. A Ilha das Cabras, as ondas, o mar de guarda-sóis na areia durante o verão. Um conjunto que mereceu uma moldura à altura: a Avenida Atlântica, que contorna o principal cartão-postal da cidade.
Continua depois da publicidade
Não há exagero em dizer que é ali, em meio aos mosaicos de pedra portuguesa do calçadão, que pulsa o coração de Balneário Camboriú. A avenida, coroada pelos arranha-céus, é uma atração turística à parte. Objeto de desejo, com imóveis milionários, e corredor gastronômico da Capital Turística de Santa Catarina, a via transformou-se junto com a cidade ao longo dos 55 anos de história oficial, desde a emancipação.
Mas a Avenida Atlântica já tinha fama antes disso. Quem vê hoje o vaivém agitado da via, ponto de encontro de quem gosta de caminhar, correr, ou de uma cerveja no fim do dia, talvez nem imagine que ela já serviu até como pista de pouso para aviões.
– A Avenida Atlântica era um excelente campo de pouso. Muitos aviões pousavam, inclusive hidroaviões, que faziam aqueles ralis Rio de Janeiro-Buenos Aires, e paravam aqui – conta o historiador Isaque Correia.
Naquele tempo, Balneário Camboriú ainda era a praia de Camboriú. Um bairro da cidade que, hoje, é vizinha. Lugar onde os moradores do Vale do Itajaí costumavam passar as férias. Aos 81 anos, o advogado aposentado Laureano Bittencourt conta, com orgulho, que nasceu na Avenida Atlântica. Na verdade, esquina da Avenida Central com a restinga beira da praia. A avenida nem existia ainda.
Continua depois da publicidade
– Meu pai não queria vir para cá. Dizia que havia muito barulho do mar à noite, que não dava para dormir, que era muito vento. Meu avô dizia: “meu filho, no mundo inteiro, todo mundo gosta de praia. Não vês o pessoal de Blumenau, de Pomerode, de Brusque, que vem para cá? De carroça, mas vem” – relembra.
Em oito décadas de vida, seu Laureano mora há mais de 60 anos na Avenida Atlântica. E assistiu, com direito a vista privilegiada, todas as transformações pelas quais a via mais famosa de Balneário Camboriú passou.
A primeira coisa que faço no dia é abrir a janela, olhar essa vista maravilhosa e agradecer a Deus por morar de frente para o mar. Falam que os prédios dão sombra, mas acho que trazem um charme diferente. É um privilégio morar aqui, que não troco por nada.

Do serrote à Copacabana do Sul
O historiador Isaque de Borba Correia conta que o traçado da Avenida Atlântica como é formado hoje foi resultado de uma empreitada, no mínimo, inusitada. E de uma boa dose de ousadia. Na década de 1970, o então prefeito Gilberto Meirinho decidiu que a avenida deveria ser linear, e mandou derrubar as cercas das casas que ficavam na beira da praia na calada da noite.
– Ele dizia que a estrada parecia um dente de serrote, entrecortada pelos muros das casas. Numa madrugada fria de julho, equipou dois caminhões com trilhos de trem no para-choque e saiu derrubando os muros da praia – diz o historiador.
Continua depois da publicidade
Antes da derrubada, uma lei sancionada pelo prefeito Meirinho determinou que novos muros na Avenida Atlântica deveriam ter calçada e regulamentou o recuo. Quem teve que reconstruir as cercas, precisou fazê-lo de acordo com as novas regras. E assim que a via ganhou forma.
Mais tarde, obras de reurbanização, que desenharam o calçadão com os mosaicos em pedra portuguesa, garantiriam à avenida o apelido de “Copacabana” do Sul. Era final da década de 1980, época em que o turismo já estava consolidado.
Nem nós, que éramos daqui, imaginávamos que Balneário chegaria a esta dimensão que tem hoje, a esta cidade que todas as pessoas desejam – diz o empresário Osmar Nunes Filho, dono do mais antigo hotel da Avenida Atlântica, o Marambaia.
Inaugurado em 1964, o hotel tem a mesma idade de Balneário Camboriú. A fachada redonda, no Pontal Norte, é um ícone e um ponto de referência. Tanto, que mereceu projeto de lei de tombamento histórico.
O céu é o limite
Não há consenso sobre o que despertou nos construtores de Balneário Camboriú o gosto pelas alturas. O fato é que a tendência dos arranha-céus não é de hoje. O pioneiro no mercado dos gigantes foi o Edifício Imperatriz, construído na década de 1970 com 30 andares, um dos residenciais mais altos do país na época. Desde então, o céu é o limite, e a Avenida Atlântica é o principal cenário onde se erguem algumas das joias da construção civil local.
Continua depois da publicidade
São torres que figuram na lista das mais altas da América do Sul, segundo o site The Skyscrapper Center. E quanto maior a altura, mais vale a vista. Um plano diretor permissivo, uma certa ousadia e a disputa interna entre as construtoras, para construir as maiores torres, fizeram da Avenida Atlântica de Balneário Camboriú um caso único de adensamento à beira-mar no país.

A praia do presidente Jango
Foi um personagem histórico um dos grandes responsáveis por tornar Balneário Camboriú a cidade turística que é hoje. Mesmo sem querer, o presidente João Goulart, que costumava passar as férias na cidade com a família na casa de veraneio, alçou Balneário – e a Avenida Atlântica, que era o endereço do imóvel dele – para a fama.
– Ele vinha para cá há tempos, desde quando era deputado, depois ministro e vice-presidente. João Goulart gostava muito de Balneário Camboriú, e naquele tempo inclusive criou-se o primeiro epíteto para a praia, que foi o de praia presidencial – diz o historiador Isaque Correia.
A presença de Jango em Balneário foi especialmente importante em 1962. Naquele ano, de crise econômica no Brasil, a cidade começou a crescer na contramão da economia brasileira, com o surgimento de novos empreendimentos. O motivo era simples: os empresários decidiram investir onde o presidente da República investia.
Continua depois da publicidade
Balneário Camboriú, a “praia presidencial”, ganhou as páginas das revistas nacionais e, até hoje, circulam na internet filmes antigos de divulgação que foram produzidos naquela época.
Jango acabou deposto pelos militares, e perdeu a presidência. Mas o lugar dele na Avenida Atlântica permanece eternizado: uma estátua do ex-presidente com os dois filhos fica em frente à casa de veraneio da família – terreno que hoje é ocupado por um restaurante. Na inscrição, está o reconhecimento. “A praia do presidente Jango”.

Praia Central passará por novas modificações
Ao longo dos 55 anos, a Avenida Atlântica e a Praia Central se transformaram muito. E o projeto de alargamento da faixa de areia, que inclui a reurbanização da orla, pode trazer uma nova mudança. A proposta divide opiniões, principalmente quanto à manutenção das características da praia. Algo que a prefeitura garante que não será alterado, já que a jazida encontrada tem areia com granulometria similar à que está hoje na beira do mar.
Continua depois da publicidade
O financiamento de R$ 85 milhões foi aprovado pelo Tesouro Nacional, e a prefeitura deve lançar o edital da obra em breve.
O espaço de lazer, de atividade esportiva está reduzido. As pessoas querem andar de patinete, de bicicleta, de skate, com carrinho de bebê. Querem correr. E nós precisamos atualizar (a praia) – diz o prefeito Fabrício Oliveira (sem partido).
Segundo o prefeito, a reestruturação da faixa de areia é tratada como um programa ambiental, com a garantia da manutenção das características da praia. Depois, virá a urbanização, que ainda não tem projeto definido.
– O segundo momento é proporcionar a infraestrutura, com novos quiosques, banheiros, chuveiros, prática de esportes, espaço para academias. É uma atualização para que Balneário Camboriú mantenha uma estrutura de contemplação do que nós temos de mais bonito.
Continua depois da publicidade