Aos primeiros raios de sol um grupo se dirige para a água, carregando remos e empurrando a canoa estreita e pontiaguda. Todos se sentam em suas posições e o que se ouve é o toque das espátulas na superfície aquática ainda avermelhada da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Essa cena é comum também na Barra da Lagoa, ainda em Floripa ou na Barra de Ibiraquera, em Imbituba, bem como em outras localidades do estado de Santa Catarina.
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As pessoas que observamos sobre as embarcações um tanto estranhas aos nossos olhos leigos representam a quadragésima geração de uma arte milenar, popularmente conhecida em sua terra de origem como Va'a. Há três milênios os povos oriundos do triângulo polinésio já utilizavam a canoa para desbravar terras e percorrer grandes distâncias entre as centenas de ilhas da região.
Cada clã construía suas próprias embarcações em uma espécie de ritual espiritual. O significado era extremo, depositando em cada uma delas a bravura e a beleza da comunidade. Va'a, ou canoa, é sinônimo de concentração e respeito até hoje, indo além dos esportes conhecidos por trazer a mais pura forma de filosofia de equipe quando se está na água.
Vale ressaltar que a Canoa Havaiana — nome mais popular no Brasil — , para quem vive seu cotidiano, passa a ser um estilo de vida que transforma a maneira de pensar enquanto ser humano, que equilibra corpo e mente. Yin e Yang, como de sua construção milimetricamente desenhada para suportar as intempéries marinhas e continuar em seu percurso.
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Treino ou filosofia?
Para Antonio Gonzaga e Alexey Bevilacqua, sócios do clube Kanaloa Va'a, "filosofia e estilo de vida moldados às necessidades do mar e de convivência em grupo em áreas naturais remotas" é o que melhor define as práticas nas Canoas Havaianas.
— A prática cotidiana leva a uma dinâmica de pequenos desafios e enfrentamentos de medos e limitações, o que leva o indivíduo, em grupo, a um desenvolvimento forçado, mas num ritmo natural, ampliando suas zonas de conforto e capacidades de resposta para as demandas do mar.
Voltamos então ao início do texto, ao respeito, à disciplina e à concentração, em que a canoa havaiana é comparada por Gonzaga a uma arte marcial.
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— A canoa não é apenas um esporte, é um estilo de vida e uma ferramenta para buscar uma melhoria na qualidade de vida. A canoagem, no meu caso, é meu estilo de vida, meu trabalho, meu grupo social e é onde consigo vivenciar e aplicar as ideologias em que acredito —, palavras ditas por Evandro Carvalho, o "Alemão" do clube Floripa Va'a.
Ele completa o raciocínio equiparando o esporte à meditação, por exigir que se esqueça do mundo exterior ao embarcar para que toda ajuda seja destinada à equipe. Puro exercício de concentração.
Quem pratica o Va'a?
Quem quiser. Gonzaga destaca que a canoagem é inclusiva e se lembra de que "nas ilhas polinésias a canoa é o símbolo de "Ohana – a família extendida" e este é o espírito que norteia sua prática e desenvolvimento". Outro ponto interessante foi apontado por Carvalho, em que "praticando regularmente as atividades do clube, todas as metas da OMS (Organização Mundial da Saúde) são alcançadas para a manutenção e melhoria da saúde, tanto física, quanto mental".
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Pode ser que esteja aí o esporte que você vai começar a praticar neste verão!