Quando for eleito – provavelmente por aclamação – na votação desta terça, em Fortaleza, o novo presidente da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS), Marcos Madeira, terá encerrado a transformação de líder da oposição a aliado da situação. A mudança do dirigente enfureceu os principais jogadores da modalidade, comandados pelo ídolo Falcão, que prometem um boicote à seleção brasileira em vídeo publicado nas redes sociais.

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– Não concordo com nada do que está acontecendo. Estou feliz em ser um dos puxadores dessa campanha, em benefício do esporte e do futsal. Estamos brigando por uma gestão limpa, séria e que beneficie apenas o esporte. Nós atletas vamos comprar essa briga, porque só nos podemos mudar isso – afirma Falcão .

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As idas e vindas que explicam o momento turbulento do futsal se iniciam em março do ano passado, em um outro boicote à seleção, também iniciado por Falcão. Na época, insatisfeito com o trabalho do diretor de seleções Edson Nogueira, o jogador revelou problemas na gestão do então presidente da confederação, Aécio de Borba Vasconcelos. Os jogadores só voltariam a defender o Brasil em setembro.

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Na esteira da repercussão das críticas, Madeira, presidente da Federação Mineira, ganhou força como liderança de oposição. Em maio, o balanço financeiro da confederação para o período entre novembro de 2012 e dezembro de 2013 foi reprovado. Com isso, a entidade não teve mais como fechar contratos de patrocínio com empresas estatais – incluindo os Correios, antigos apoiadores da modalidade.

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A escassez de recursos fez com que a dívida da confederação chegasse a R$ 6 milhões, e a Copa América, que seria realizada neste mês, teve de ser cancelada. Desgastado, Aécio de Borba Vasconcelos foi destituído, e Renan Tavares assumiu em seu lugar.

Tavares teria mandato até o fim de 2017, mas um grupo de 18 federações, liderado por Madeira, pressionou pela convocação de novas eleições. Quando o presidente confirmou o novo pleito, a surpresa veio à tona: Louise Bedé, vice-presidente administrativa da atual gestão, estava na chapa liderada por Madeira. Além de provocar a fúria dos jogadores, a junção de situação e oposição fez com que Nilton Romão, candidato preferido dos atletas que lideram as críticas, se retirasse do pleito. Madeira transformou-se em candidato único.

Contatado por ZH, o futuro presidente justificou a aliança como forma de viabilizar a nova eleição (veja entrevista abaixo). O dirigente criticou os jogadores por desconhecerem a real situação da entidade que irá comandar, e reconheceu que, após ter acesso a informações detalhadas sobre a CBFS, não é mais “tão contundente” nas críticas à gestão.

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Enquanto enfrenta as dificuldades políticas, a futura diretoria planeja acalmar os ânimos assim que assumir. A intenção é marcar reuniões com os jogadores insatisfeitos ainda nesta semana.

Outra pauta é a realização da Copa América, inicialmente prevista para este mês, em julho. Negociações com três municípios (um no Paraná, um em Santa Catarina e outro em Minas Gerais) estão em curso para definir a sede do evento. A prefeitura da cidade escolhida ajudaria a bancar, e a Conmebol também teria se comprometido a dar auxílio financeiro à CBFS para a organização do torneio.

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Como o senhor avalia o momento do futsal e o boicote dos jogadores?

Vejo como algo normal. Os jogadores desconhecem muita coisa sobre o momento que vive o futsal. É um momento de tentar conversar para chegar a um denominador comum. Os jogadores têm certa razão, mas no fundo há absurdos que não poderão vir à tona agora. É uma questão delicada. Nós fizemos essa união porque há essa oposição de 18 federações que está trabalhando no intuito de termos uma eleição. A eleição só se concretizou com essa aliança. Se não, o futsal ficaria até 2017 sem uma eleição. Ficaria no fundo do poço. O acordo não foi para que eu chegasse à presidência. Não tenho essa vaidade. Tivemos um grupo fechado com um único objetivo: ter uma eleição o mais rápido possível.

O senhor tinha uma postura crítica em relação à gestão da CBFS, e hoje se aliou com pessoas ligadas a essa gestão. O senhor mantém as críticas de antes?

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Fala-se que não temos coerência. Mas como cobrar coerência de um lado se não tem do outro? Quando o Renan (Tavares) assumiu, houve movimento do próprio Falcão no sentido de boicotar, não aceitar convocação. Um mês depois, estavam a mil maravilhas. Gostaria de saber o que aconteceu. Por que uma reviravolta tão grande? Agora, estão criticando os mesmos que lá estavam.

Mas independentemente da postura dos jogadores, o senhor mantém as críticas que antes fazia em relação à atual gestão?

Nós temos nosso ponto de vista. Agora, conhecendo mais profundamente a situação, talvez não seja tão contudente quanto era antes. Depois das eleições, vamos colocar muitas coisas às claras. Tenho certeza absoluta de que todos vão entender o que foi feito. O único objetivo foi tirar o futsal do fundo do poço.

O senhor poderia revelar alguma situação que tenha tomado conhecimento para que fosse “menos contundente” em suas críticas?

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Agora eu não poderia falar. O contexto me impede de revelar algo nesta situação. Fica difícil, é um problema delicado, uma situação em que tivemos que contornar muitas coisas. A luta não começou ontem, começou em março de 2014. O que eu quero deixar claro é o seguinte: todos os atletas serão bem-vindos. Não tenha dúvidas de que vamos ter uma seleção brasileira. Vamos tentar chegar a um denominador comum. Mas a autoridade da confederação e de seus dirigentes, se eu estiver lá, jamais será colocada em dúvida.

* ZHEsportes