A customização que levou à morte dos quatro jovens dentro de uma BMW, em Balneário Camboriú, no primeiro dia do ano, foi feita seis meses antes da tragédia. De acordo com o delegado Vicente Soares, da Divisão de Investigação Criminal (DIC), a mudança no escapamento que resultou na intoxicação por monóxido de carbono ocorreu em julho, em uma oficina de Aparecida de Goiânia (GO). Os mecânicos responsáveis pelo trabalho ainda serão ouvidos no decorrer da investigação.
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Essa teria sido a terceira etapa de um processo de customização feito por Tiago de Lima Ribeiro, 21 anos, dono do carro. As duas primeiras, ainda conforme o delegado, teriam ocorrido assim que o jovem comprou a BMW, em 31 de maio de 2023. Nesta data, Tiago leva o veículo para a instalação de um módulo para dar mais potência ao motor e também para alterar o escapamento, explica Soares. Essas modificações, porém, não teriam sido as responsáveis pela fatalidade, e sim aquelas feitas na região metropolitana de Goiânia, cerca de um mês depois.
Durante a coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (12), que confirmou a intoxicação por monóxido de carbono como a causa da morte dos quatro jovens, o delegado Vicente Soares também chegou a se referir à peça que provocou a tragédia como “caseira”. O investigador afirma que a tendência do inquérito é de que haja o indiciamento dos envolvidos por homicídio culposo, ou seja, quando não há intenção de matar.
— A oficina criou essa peça de uma forma errada, não segura, e sem observar as técnicas necessárias. Não havia presilha e a solda era malfeita, como os peritos relataram. Então esse conjunto, o fato da trepidação da peça por faltar a presilha, junto a essa solda, acarretou na ruptura e consequentemente no vazamento do monóxido [de carbono] — disse Soares em entrevista ao NSC Total.
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“Atmosfera tóxica”
De acordo com a perita criminal bioquímica Bruna de Souza Boff, a saturação de monóxido de carbono em três das vítimas estava acima de 50% e de uma entre 49% e 50%, o que causou a morte lenta do grupo de amigos. Isso teria sido provocado por conta de ao menos quatro modificações feitas na BMW onde estavam os jovens — como a troca do catalisador e escapamento sem passar por abafadores. Isso fez com que o gás tóxico fosse mandado para dentro do veículo que, completamente fechado e com o ar-condicionado ligado, intoxicou Gustavo, Tiago, Karla e Nícolas.
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A perícia identificou um total de 1.000 ppm de monóxido de carbono próximo ao ponto de ruptura do motor onde foi feita a modificação da BMW — índice que pode provocar a morte em até duas horas. Isso criou, segundo a Polícia Científica, uma “atmosfera tóxica dentro do veículo”. Essa situação foi potencializada, pelo fato de que o carro estava completamente parado, o que fez com que não houvesse nenhuma circulação de ar, completa o perito criminal Luiz Gabriel Alves de Deus.
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Os quatro jovens morreram na manhã de segunda-feira (1º). O Samu encontrou as vítimas em parada cardiorrespiratória dentro de uma BMW no estacionamento da rodoviária de Balneário Camboriú, onde tinham ido buscar Geovana, namorada de Gustavo. Com ajuda de populares, eles foram colocados na calçada para receber socorro. Após 40 minutos de tentativas de reanimá-los, eles faleceram.
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Geovana contou que os amigos chegaram à rodoviária por volta das 3h15min reclamando de enjoo e tontura. Como o trânsito congestionado para voltarem à Grande Florianópolis, onde moravam, os jovens decidiram ficar dentro do carro, com o ar-condicionado ligado, até melhorarem. Ela teria optado por esperar do lado de fora do veículo e às 7h foi ver como eles estavam. Nesse momento teria visto o namorado sangrando pela boca e os demais com olhos avermelhados.
Ela pediu ajuda para ligar para o Samu, que disse ter chegado ao local em oito minutos. Todos foram declarados mortos ainda na rodoviária. Segundo o relato de Geovana, o intervalo entre a última vez que falou com os amigos até o momento de perceber que eles não estavam respirando seria de aproximadamente 40 minutos, conforme a Polícia Civil. Imagens das câmeras de segurança da região foram solicitadas para perícia.
A polícia fez coleta de exames para esclarecer o que levou às paradas cardiorrespiratórias. Entretanto, uma análise prévia da BMW indicou que houve um vazamento entre o motor e o painel do carro, possivelmente causando intoxicação e asfixia por monóxido de carbono. Familiares teriam contado na delegacia que recentemente houve customização do escapamento do carro. Os corpos não tinham sinais de violência e a Polícia Militar disse não ter encontrado vestígios de álcool e drogas no carro.
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