Viver em Florianópolis ficou mais caro neste ano. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor, média conhecida por Custo de Vida que reflete a variação de preços incidentes sobre os orçamentos de famílias florianopolitanas, teve variação geral de 9,97% 8,51% foram registrados somente até outubro de 2015. Alimentos, combustível, energia elétrica e, mais recentemente, tarifa telefônica contribuíram para a alta. E em meio a uma verdadeira onda de aumentos, o destaque fica por conta do limão, que ocupa o topo da lista com 26,13% de aumento no acumulado de outubro.

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Para seu Hermínio Basílio dos Santos, 82, mané da Lagoa da Conceição, não há dúvidas de que está tudo mais caro.

– Claro! Nem precisa de pesquisa para saber disso, minha filha… Tudo que é comida aumentou – diz, enfatizando o item que mais pesa em seu bolso. Para sobrar um troquinho no fim do mês, ele sai do Leste da Ilha e vai em direção à Agronômica, onde enche o carrinho na feira.

A pedagoga Leila Novais, 62, também comprova a existência de preços melhores em sacolões. Ela justifica o aumento no preço da comida, 9,27% no último ano, como reflexo no reajuste dos combustíveis – registrado em 5,88% em outubro.

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– Um puxa o outro. Se a gasolina sobe num dia, no outro eu já vejo diferença de preço na maioria das coisas. Acho o preço das frutas mais estável na feira e por isso venho toda semana aqui – explica.

Conforme os cálculos do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas da Esag/Udesc, que deduz o IPC, a “alimentação fora do domicílio” registrou a maior alta no grupo dos alimentos: 1,46%. Por outro lado, os “produtos in natura” registraram queda no mesmo valor.

– Em um contexto de economia instável, qualquer aumento é significativo. Em 2014, tivemos 5,5%, enquanto nesse ano já são 8,51%. Três pontos percentuais pesam no orçamento das famílias, principalmente naquelas que têm até um salário mínimo. A expectativa para os últimos dois meses do ano é que o índice não chegue à casa dos dois dígitos [10%]. Para 2016, as correções estruturais do governo devem gerar aumentos em escalas menores – prevê o administrador Hercílio Fernandes Neto, que coordena o estudo.

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Limão foi um dos itens que mais subiu no acumulado do último mês. Foto: Betina Humeres/Agência RBS

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Em escala

O haitiano Robson Mathieu, 26, vive em Florianópolis há seis anos. Se no ano passado ele gastava R$ 50 por semana em alimentação, para levar os mesmos produtos atualmente ele diz ter que desembolsar em torno de R$ 140.

– Tem que trabalhar muito para se manter, por isso tenho dois empregos. Quando cheguei aqui, pagava R$ 350 de aluguel e hoje está R$ 600 – conta.

O casal de estudantes Caroline Felisberto, 21, e William Heidemann, 20, também sente o aumento ano a ano. Há três, eles saíram de cidades menores do Sul do Estado para estudar na Universidade Federal de Santa Catarina. Até hoje eles dizem que deixam para fazer boa parte das compras nas cidades de origem na tentativa de economizar. Por conta disso, acabam sentindo os efeitos do aumento do custo de vida na capital de maneira diferente.

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– Usamos bastante o carro e, por isso, o preço da gasolina pesa no orçamento. Energia elétrica da mesma forma – dizem.

– Os serviços públicos foram os que mais subiram nos últimos 10 meses, sendo a energia elétrica a grande vilã, registrando um aumento absurdo em torno de 20% no ano – contextualiza Hercílio com base nos números obtidos na pesquisa.

Robson vive há seis anos na capital catarinense e só vê os preços aumentarem. Foto: Betina Humeres/Agência RBS

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Sobe e desce de outubro

Alimentação

Produtos industrializados: Óleo de soja (+4,51%), pão de trigo (+4,46%), pão francês (+4,46%). Café em pó (-1,91%), macarrão (-2,00%) e achocolatado (-2,11%).

Produtos de elaboração primária: Arroz macerado (+2,38%), carne de segunda (+1,53%), arroz agulha (+1,43%). Carne de primeira (-0,39%), carne moída de primeira (-1,01%) e fígado bovino (-2,76%).

Produtos in natura: Limão (+26,13%), chuchu (+10,98%), tangerina (+5,41%); Banana branca (-1,96%), batata inglesa (-9,47%) e cebola de cabeça

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(-10,63%).

Produtos não-alimentares: Combustíveis para veículos (+5,88%), artigos de cama, mesa e banho (+3,65%), produtos de limpeza (+3,53%). Móveis (-3,32%), produtos eletrônicos (-1,56%), eletrodomésticos (-1,56%),

Serviços públicos e de utilidade pública

A variação de 0,24% identificada nesse grupo, foi consequência do aumento de 5,13%, ocorrido na tarifa telefônica.

Outros serviços

Neste Grupo, em outubro as despesas com a manutenção de veículos sofreram uma variação de 5,57%.

Quase 60% dos catarinenses estão endividados

Levantamento da Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio-SC) aponta que 60% dos catarinenses estão com parte da renda comprometida com alguma conta parcelada: cartão de crédito ou financiamento do carro, por exemplo. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores Catarinenses também garante que 20% das famílias do Estado já estão com dívidas ou contas em atraso no mês de outubro. Em setembro, o percentual de endividados encontrava-se em 55,8% e de inadimplência em 18,8%.

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Os indicadores de inadimplência, que atingiram o máximo da série histórica iniciada em janeiro de 2013, foram impactados negativamente pela alta do custo do crédito, pela retração da renda e pelo cenário desfavorável do mercado de trabalho. Apontado como o responsável pelo endividamento, o cartão de crédito lidera o ranking das dívidas dos catarinenses com 50,2%. Em segundo, terceiro e quarto lugar aparecem os carnês (34,8%), financiamento de carro (31,4%), financiamento de casa (18,2%).

– Embora os níveis de inadimplência tenham atingido o maior percentual da série histórica, o crescimento é estável, já que o tempo médio com dívidas em atraso ainda se situa num patamar bastante moderado. O indicador caiu neste mês para 65 dias, enquanto que a inadimplência considerada mais preocupante, a partir dos 90 dias, permanece estável. O aumento dos juros está se refletindo na capacidade das famílias efetivarem novas compras com o recurso do crédito – traduz o presidente da Fecomércio-SC, Bruno Breithaupt.

– Todos esses indicadores se complementam e suas variações se devem muito a desaceleração da renda real das famílias, cuja massa salarial real retraiu -5,2% neste ano, puxada pela alta inflação. A elevação das taxas de juros também desempenha um papel de destaque no comportamento dessas variáveis – finaliza o economista da Fecomércio-SC, Luciano Córdova.

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