Estivesse na trilha da novela, a música de Luciano Nakata Albuquerque, o Curumin, não causaria estranhamento algum. Arrocha, seu terceiro disco de estúdio, tem tanto a oferecer aos antenados em música eletrônica descolada quanto aos que acompanham o tecnobrega em Cheias de Charme. Por trás das referências contemporâneas, há um compositor de singelas canções.
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Arrocha diz a que veio no título, referência à fusão da dança colada do brega nordestino com as batidas eletrônicas, quase onipresentes em suas 13 faixas. O que diferencia a música de Curumin da que fazem as Empreguetes da novela é – além do bom gosto – o repertório de Nakata e a consequente riqueza de influências do disco. Arrocha extrapola a mistura de música eletrônica do gueto com canção romântica do nordeste e vai ao encontro do reggae (Vestido de Prata, versão para música de Paulinho Boca de Cantor), do soul (Selvage) e do folk psicodélico (Pra Nunca Mais).
A sonoridade pesa a mão na via digital, mas a temática preponderante em Arrocha é a natureza. Nakata já havia feito a mesma mistura ao cantar um rap sobre o Protocolo de Kyoto no disco Japan Pop Show (2008). Em Arrocha, mesmo as vinhetas experimentais que dominam o “lado B” vêm sob nomes alusivos a um Brasil distante de sua São Paulo natal (Tupãzinho Guerreiro e Sapo Cururu).
O que faz de Arrocha menos pesado e mais irresistível são as canções. Paris Vila Matilde emana a solidão de São Paulo. A singela Passarinho é um sopro de leveza que, ironicamente, foi composto por um MC, Russo Passapusso.
A música de Curumin mora perto da de Céu e Criolo: aproxima e mistura as artes marginal e consagrada. Alguns fazem isso há uma década, mas agora parecem prontos para serem reconhecidos – como a grande novidade da MPB.
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