O momento não poderia ser mais pertinente. Em meio a debates sobre cultura do estupro, assédio sexual e empoderamento feminino, a artista visual e cineasta Giovana Zimermann lança nesta quarta-feira (8), no cinema do CIC, em Florianópolis, o curta-metragem branCURA, que fala de traumas, violência sexual e arte.
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No curta, a protagonista Aimèe, vivida pela atriz Angélica Mahfuz, foi abusada na infância e adolescência e por isso entende que a sensualidade é uma ameaça. Ela se esconde para não ser percebida, usando faixas para esconder os seios, por exemplo. Gravurista, ela se apoia na arte para tentar superar uma neurose resultante do trauma: uma obsessão com a limpeza do próprio corpo. Giovana foi entrevistada no Notícia na Manhã desta quarta-feira e falou sobre o curta. Confira a entrevista na íntegra:
O filme faz parte de uma trilogia iniciada por Da Janela, de 2009, que faz referência à Trilogia das Cores do cineasta polônes Krzysztof Kieslowski – composta pelos filmes Bleu (A Liberdade é Azul), Rouge (A Fraternidade é Vermelha) e Blanc (A Igualdade é Branca). Assim como na obra de Kie¿lowski, Giovana usa as cores de maneira simbólica.
— Da Janela tem o vermelho muito forte, representando sensualidade e violência. Tem também umas cenas verdes pra tratar a questão da dor no ambiente doméstico. O branco de branCURA é sobre o trauma e também aborda o tema do aborto após uma violência sexual. Ele termina com uma estética azul, com o poema Região Azul, de Cruz e Sousa, para adiantar o próximo filme, A Cor da Liberdade. A ideia é fechar com a superação dessa ferida social — explica a diretora, que utiliza o cinema como dispositivo do discurso sobre os con¿itos urbanos.
Essas não são as únicas referências artísticas em branCURA. Há também alusões à poesia de Charles Baudelaire, à pintura de Mondrian e Frida Kahlo e à fotografia Le Violon d’Ingres, de Man Ray.
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— Quando exibi o Da Janela, ele foi tema de muitos debates com profissionais envolvidos nessa questão da violência. Fui construindo o branCURA a partir desses elementos que me apareciam, com a finalidade de transcender: não apenas reportar a violência, mas tratar da cura. No cinema, você tem que ficar ali, não pode sair pra pegar um copo de água como quando assiste à TV. Acredito na potencialidade do cinema com essa característica, “vamos sentar aqui, prestar atenção no assunto”.
Assista ao curta Da Janela:
Logo após a exibição do filme, será lançado o livro Rio de Janeiro e Paris: A Juventude Apache do Cinema na Periferia, um estudo sobre a expressão da periferia na cinematografia brasileira e na francesa. A obra, tese de doutorado de Giovana, propõe uma discussão sobre os dois países a partir de suas características semelhantes, como o comportamento dos jovens em uma sociedade do espetáculo e do consumo.
— Trabalho com arte no espaço público há 15 anos. Isso me estimulou a pesquisar a cidade no doutorado, e me dei conta de temas como conflitos sociais, juventude, barbárie, capitalismo esquizofrênico e crianças jovens entrando no narcotráfico — conta Giovana sobre a escolha do tema. Ela cursou mestrado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina em 2009 e concluiu doutorado em Literatura, em 2015, na mesma universidade. Hoje, é pós-doutoranda em Imagem da Cidade pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Agende-se
O quê: Estreia de branCURA e lançamento do livro Rio de Janeiro e Paris: A Juventude Apache do Cinema na Periferia, de Giovana Zimermann. Após a exibição do curta, haverá um debate com participação da equipe de produção e da psicanalista Maíra Marchi Gomes
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Quando: quarta-feira (8), às 20h
Onde: Cinema do Centro Integrado de Cultura – CIC (Avenida Gov. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis)
Quanto: Exibição gratuita. O livro estará à venda por R$ 55 (aceita débito)