Blumenau e cerveja são palavras há muito tempo intimamente ligadas. Eventos como Oktoberfest, Sommerfest, Festival da Cerveja e o surgimento de inúmeras cervejarias artesanais que difundiram suas produções pelo país ajudaram a colocar a bebida como parte importante da identidade do município. A tal ponto que, no ano passado, a cidade ganhou o título oficial de Capital Brasileira da Cerveja.

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Mas não são somente as festas e as fabricantes de cerveja que têm colocado a cidade em destaque quando o assunto é o mercado cervejeiro. Neste mês de janeiro, sete cursos concentrados da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), de uma a duas semanas de duração, atraíram aproximadamente 290 alunos que vêm de 20 estados brasileiros e de outros quatro países – Argentina, Paraguai, Bolívia e Cabo Verde – em busca de formação e conhecimento.

Euclides Baptista Martins, 33 anos, é formado em ciências biológicas e trabalha como coordenador de produção de uma indústria cervejeira no arquipélago de Cabo Verde, na África. Por lá, é a pilsen que domina o mercado. Em agosto do ano passado, ele desembarcou em Blumenau para fazer o curso de mestre cervejeiro, que tem duração de um ano. A vinda teve apoio da empresa para que ele tivesse uma formação mais específica para controlar a produção da bebida. Este mês, aproveitou o início de ano para fazer o curso concentrado de sommelier de cervejas. O primeiro dos 15 dias de aula ocorreu ontem.

Renascimento da cerveja artesanal

O fato de os países terem o mesmo idioma e o diretor brasileiro da empresa em que ele trabalha, responsável por fazer boa propaganda do país para Euclides, foram fundamentais na escolha por Blumenau para a formação. Nos cinco meses em que já estudou e conheceu a cidade ele diz já ter aprendido muito e destaca o que ele chama de renascimento da cerveja artesanal dos últimos anos.

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– Vou voltar com uma formação para gerir melhor a unidade em todas as etapas de fabricação. Blumenau é uma cidade que respira cerveja, principalmente as especiais, isso ajuda a conhecer melhor, sentir e experimentar todos os tipos, como weiss, sauer, IPA – relata o aluno.

Ariel Costa Tozzi veio de mais perto: Rio de Janeiro. Aos 22 anos, ele é formado em nanotecnologia, mas em uma viagem de quatro meses pela Europa descobriu que queria mesmo era trabalhar com cerveja. Veio para Blumenau em busca do conhecimento que o permita pôr em prática o objetivo de produzir suas cervejas especiais em casa e em plantas de fábricas. Na semana passada fez aulas de microbiologia e ontem começou o curso “Como montar sua cervejaria”.

– Tem sido sensacional, acima da expectativa. Desde conhecimento e networking até os processos como fermentação, entender o mercado, a tributação, todos os aspectos – frisa.

Alunos movimentam R$ 2,5 milhões na cidade, diz escola

Desde 2014, quando foi fundada, a Escola Superior de Cerveja e Malte já formou mais de 4,5 mil pessoas – a grande maioria delas de outras regiões, garante o diretor Carlo Bressiani. São quatro as linhas de oferta dos cursos – produção industrial, caseira, sommelier e gestão. A escola é a única da América Latina e uma das 21 escolas de cerveja existentes do mundo. Por isso supriu uma carência na formação de profissionais da área e atrai tantos alunos de diferentes regiões. A empresa não esconde a intenção de estabelecer parcerias para oferecer cursos em outras áreas do país. De olho no mercado latino, abriu no fim do ano passado uma unidade em Montevidéu, no Uruguai.

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Os cursos concentrados são oferecidos desde 2015, sempre em janeiro e julho. As formações ajudam a qualificar e ampliar a oferta de mão de obra e empreendedores para um setor que cresce sem tomar conhecimento de qualquer crise. De 2013 até 2017, o setor mais que dobrou no país, saltando de 318 para 679 cervejarias, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Mais do que isso, os cursos concentrados movimentam a economia da cidade como um todo. São os valores dos cursos, a ocupação em hotéis e pousadas, o transporte, e claro, o consumo em bares, restaurantes e cervejarias. Essas são paradas obrigatórias dos alunos, seja para confraternizações, seja para oportunidade de aprendizado. Muitos também aproveitam para trazer a família para passar férias na região. Uma estimativa da própria ESCM calcula que esse público injeta cerca de R$ 2,5 milhões na economia local.

– É, com certeza, uma data representativa no faturamento, já está com lugar especial no nosso calendário. Eles procuram um lugar com boa cerveja, serviço e também levam muita coisa daqui para a região deles, o que nos ajuda na divulgação e em futuros negócios – explica o empresário Valmir Zanetti, da Bier Vila e da Cerveja Blumenau, duas das principais paradas dos alunos.

Quem também ri à toa são pessoas como Jairson Steinhauser, o Jajaco. Quando os primeiros alunos da escola começaram a procurar hospedagem, ele transformou suas quitinetes no bairro Salto do Norte em um hostel que hoje recebe muitos hóspedes matriculados nos cursos. Atualmente está com 25 pessoas hospedadas, uma ocupação alta para essa época do ano.

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– A criação da escola foi fundamental para a minha mudança de atuação. Além disso, para o que eles precisam podem usar o “Jajaco Uber”, que é meu serviço de transporte – brinca o anfitrião.