A principal milícia curda da Síria anunciou nesta terça-feira sua retirada de Minbej, uma cidade estratégica do norte do país que foi objeto de um acordo entre a Turquia e os Estados Unidos para evitar um possível confronto direto.
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Ancara considera esta milícia curda como “terrorista”, mas Washington a considera uma aliada vital na luta contra o Estado Islâmico (EI), ainda ativo na Síria, mesmo que restrito a alguns bolsões no leste do país.
Nesta terça-feira, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) anunciou que 45 combatentes pró-regime foram mortos desde domingo em uma operação conduzida pelo EI no Vale do Eufrates.
Em um comunicado, as Unidades de Proteção do Povo (YPG) informaram a retirada de Minbej de seus últimos “conselheiros militares”, responsáveis pelo treinamento de combatentes anti-jihadistas locais.
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A decisão ocorre após conversas entre americanos e turcos sobre a cidade de maioria árabe, a 30 quilômetros da fronteira com a Turquia, onde tropas americanas e francesas da coalizão internacional anti-jihadista estão estacionadas.
O comunicado das forças curdas não menciona as discussões entre Washington e Ancara.
– “Segurança e estabilidade” –
A tensão entre os Estados Unidos e a Turquia, aliados na Otan, aumentou quando Ancara ameaçou ampliar para Minbej a ofensiva que conduzia contra as YPG no enclave curdo de Afrin.
Mas a tensão diminuiu um pouco no final de maio, quando Washington e Ancara definiram os contornos de um “roteiro” de cooperação para “garantir a segurança e estabilidade” nesta cidade.
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O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e seu colega turco, Mevlut Cavusolgu, aprovaram na segunda-feira o roteiro, de acordo com o Departamento de Estado, e afirmaram “seu compromisso mútuo para sua implementação”.
O Departamento de Estado não detalhou seu conteúdo, mas uma autoridade americana afirmou nesta terça-feira que sua aplicação seria longa e “complicada”, com muitos detalhes ainda por negociar.
O acordo visa “manter o compromisso americano de deslocar as YPG para o leste do Eufrates”, apontou a fonte.
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Um porta-voz do Conselho Militar de Minbej, que controla a cidade, afirmou à AFP que o órgão ainda não havia sido informado sobre “mudanças operacionais” no local.
Para o analista Aaron Stein, do Atlantic Council em Washington, o estabelecimento do acordo não garante um alívio da tensão. “Em caso de fracasso, voltará à estaca zero, quando (o presidente turco Recep Tayyip) Erdogan ameaçou os americanos”, avalia.
– Ataque do EI –
A Turquia, engajada numa luta armada com os curdos em seu território, vê com maus olhos a presença de forças curdas sírias em sua fronteira e conduziu duas ofensivas militares no norte da Síria desde 2016.
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As forças curdas da Síria são a espinha dorsal das Forças Democráticas Sírias (FDS), a aliança de combatentes árabes e curdos que teve papel fundamental na derrota do EI na Síria.
Segundo o OSDH, o grupo extremista controla agora menos de 3% do território sírio, contra quase 50% no final de 2016.
De acordo com o OSDH, os jihadistas lançaram no domingo um ataque contra aldeias controladas pelo regime e seus aliados no Vale do Eufrates, que matou pelo menos 45 combatentes pró-governo. Os jihadistas tomaram quatro localidades na estrada que liga a cidade de Deir Ezzor à de Bukamal, na fronteira com o Iraque.
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Os combates, “intensos” e ainda em curso, mataram pelo menos 26 combatentes do EI, segundo o OSDH.
O diretor da ONG, Rami Abdel Rahmane, disse à AFP que Moscou, aliado do regime, ainda não mobilizou sua aviação militar para ajudar as forças governistas na região.
* AFP