A defesa do lobista Julio Camargo, delator da Operação Lava-Jato que denunciou propina de US$ 5 milhões ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que Cunha e outros investigados agem com lógica de gangue.

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Segundo os advogados de Julio Camargo, a CPI da Petrobras tem tomado “uma série de medidas para desmoralizar a investigação”. Para eles, está “em vigor a ‘moral da gangue’, que acredita por triunfar pela vingança, intimidação e corrupção”.

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“Eventuais contradições de Julio Camargo, advém de seu justificado temor em relação ao deputado federal Eduardo Cunha, que hoje ocupa a presidência do Poder Legislativo Federal”, diz o documento que apresenta as alegações finais do lobista à Justiça, anexado aos autos do processo na quarta-feira.

“A reação dos investigados contra o colaborador ocorrem em várias instâncias informais, que vão desde a maledicência à calúnia descarada e formais com o uso da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras para desencorajar e desacreditar a colaboração prestada por Camargo. Está em vigor a ‘moral da gangue’, que acredita por triunfar pela vingança, intimidação e corrupção.”

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No dia 16 de julho, Julio Camargo declarou à Justiça Federal que o suposto operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, lhe disse que estava sendo pressionado por Eduardo Cunha para pagamento de propina. Os valores da propina teriam saído de compras de navios-sonda. Segundo relato de Julio Camargo, o peemedebista exigia US$ 5 milhões.

“Ninguém desconhece as críticas que Camargo vem recebendo diariamente por ter colaborado com o MPF, especialmente após ter revelado que foi vítima de coação por um parlamentar que descaradamente lhe exigiu US$ 5 milhões”, dizem os advogados do lobista.

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“Astuciosamente afirmam que a versão de Julio Camargo é mentirosa, teria sido engendrada pelo Procurador-Geral da República para prejudicar o parlamentar envolvido nos fatos, nada mais falso: o escândalo e falsidade não estão nas palavras de Camargo, mas na corrupção daqueles que juraram proteger a coisa pública, sacerdotes infieis ao culto que dizem professar se tornaram servos e cultores das falcatruas envolvendo dinheiro público.”

Na ocasião, Eduardo Cunha desmentiu as declarações de Julio Camargo e o desafiou a prová-las. Segundo ele, “após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurador-Geral da República (Rodrigo Janot), de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso”.

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“O delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos”, afirmou. “É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador-Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador-Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.”

Para a defesa de Julio Camargo, a reação dos acusados e investigados não causa estranheza. Segundo os advogados, eles “agem como crianças que desejam uma coisa, mas não suas consequências”.

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“Ameaçam o Poder Judiciário e o colaborador com “um troco”, cientes do poder econômico e político que desfrutam deixam no ar um lembrete: ‘Hoje investigado, amanhã faço a lei’, basta ver o que a CPI tem tomado uma série de medidas para desmoralizar a investigação, convocando familiares de colaboradores e pedindo a quebra de seus sigilos bancários e fiscais, além de medidas de coação contra Delegados Federais e advogados, a lógica da gangue continua vigorando: intimidação e corrupção”, diz o documento subscrito pelos advogados Antonio Augusto Figueiredo Basto, Luis Gustavo Rodrigues Flores, Rodolfo Herold Martins, Adriano Sérgio Nunes Bretas e Tracy Joseph Reinaldet. Eles assumiram a defesa de Julio Camargo, após a saída da advogada Beatriz Catta Preta, na semana passada.