Os embates duraram mais de três horas, houve gritaria em uníssono de partidos da base e da oposição, o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) precisou fazer um recuo estratégico, mas ao final os deputados autorizaram o Legislativo a realizar Parcerias Público-Privadas (PPPs). Foram 273 votos favoráveis à liberação que vai permitir à Cunha cumprir sua principal promessa de campanha à presidência Câmara: a construção de um novo prédio estimado em R$ 1 bilhão. A proposta incluia as emendas da Medida Provisória 668, votadas na noite desta quarta-feira pela Câmara de Deputados. Foi apenas um dos temas considerados estranhos, que são chamados no jargão do Congresso de “jabutis”, incluídos na MP.
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Outros 183 parlamentares foram contrários ao novo prédio, que vem sendo chamada de “projeto shopping center” por incluir lojas e escritórios de empresas privadas no mesmo ambiente do Legislativo. A obra será realizada por meio de PPP, o que até agora era proibido ao Poder Legislativo. teve seu pedido recusado por Cunha com base em uma regra regimental que desagradou a quase todos os partidos. A rejeição levou diversas legendas, especialmente PT, PSB, PSDB, DEM e PPS a ameaçarem de ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a MP 668, cujo texto-base havia sido aprovado na noite de terça-feira, autorizando o governo a aumentar PIS/Pasep e Cofins de produtos importados.
A pressão levou o presidente da Câmara a recuar, propondo que o trecho sobre as PPPs fosse votado separadamente. O presidente, contudo, afirmou que não recuou.
– Não poderia ao fim de um processo que teve ampla maioria deixar passar a impressão de que estava utilizando subterfúgio. Fizemos uma interpretação regimental e não recuei – disse.
O presidente da Casa, Eduardo Cunha, considerou não apresentado o destaque do PSOL que questionava a emenda. Cunha informou ao Plenário que, como o deputado Cabo Daciolo (RJ) foi expulso do partido, o PSOL não tem número regimental (cinco deputados) para apresentar destaques. O PSOL agora tem apenas quatro deputados. Assim, o presidente considerou o dispositivo aprovado junto com o texto-base votado na noite anterior. Os líderes aceitaram votar o artigo sobre as PPPs em separado e, durante a orientação de voto das bancadas, até mesmo os que eram contrários à forma como Cunha tratou o pedido do PSOL acabaram apoiando a mudança de regra.
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Somente o PT, o PSDB, o PPS e o PCdoB orientaram as bancadas a votar contra a autorização para a licitação privada do novo anexo da Câmara. Os demais partidos ou indicaram pela aprovação ou liberaram as bancadas para votar como queriam.
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– A nossa discussão é forma. Acho que PPP pode ser realizada por qualquer nível (de poder), mas acho que no meio de uma medida provisória é inadequado – afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), que liberou a bancada depois de ter sido um dos que ameaçaram judicializar a MP 668.
O governo orientou os partidos da base pela aprovação do artigo, apesar da orientação contrária adotada pelo PT, o que foi decisivo para Cunha obter a maioria necessária.
– Estamos discutindo uma tese e o governo é favorável a essa tese (PPP pelo Legislativo). Não interessa se é shopping center ou não é, o importante é discutir o projeto e se a PPP é transparente – afirmou o líder governista José Guimarães (PT-CE).
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Veja como os deputados se posicionaram nas emendas até agora:
– Foi aprovado, por 306 votos a 1, o destaque do PT, retirando a expressão “qualquer outra natureza” da parte do texto que concede isenção de contribuição previdenciária patronal a ajudas de custo de moradia, transporte e formação educacional de pessoas vinculadas a entidades religiosas (padres, freis, frades, ministros de fé). A intenção é evitar interpretação ampla do dispositivo.
– Deputados aprovaram, por 282 votos a 109, o destaque do PT, retirando do texto a permissão para as empresas participantes do programa de isenção fiscal da Lei de Inclusão Digital (Lei 11.196/05) contabilizarem créditos de PIS/Pasep e Cofins mesmo com alíquota zero desses tributos. Esses créditos podem ser usados para compensar os tributos a pagar de outros tributos.
– A Câmara rejeitou, por 266 votos a 125, o destaque do PSDB e manteve no texto o pagamento antecipado pelos selos de controle que as empresas de cigarros e de certas bebidas são obrigadas a usar. Atualmente, o pagamento pode ser até o 25º dia do mês seguinte ao recebimento dos selos da Casa da Moeda.
– Foi aprovado, por 289 votos a 12, o destaque do PMDB, assim foi retirado do texto a possibilidade de os produtores de bebidas frias aproveitarem o crédito presumido de PIS/Pasep e Cofins segundo alíquotas anteriores ao seu aumento.
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– Foi rejeitado o destaque do PMDB e ficou mantido no texto o fim da isenção de PIS e Cofins para bebidas frias produzidas na Zona Franca de Manaus (ZFM).
– Câmara dos Deputados aprovou, por 314 votos a 123, o destaque do PT à Medida Provisória 668/15 e excluiu do texto a possibilidade de haver pagamento de Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF), nos casos de o acionista dar ações em sua posse para integralizar capital de empresa da qual participa, somente se ela declarar o valor das ações recebidas a maior que o das ações dadas em permuta.
– Foi aprovado, por 324 votos a 104, o destaque do PRB, que manteve, na Lei 9.430/96, multa isolada de 50% sobre débito não homologado pela Receita em casos de pedidos de compensação de créditos por tributos a pagar.
– A Câmara aprovou o destaque do PSD e retirou o poder de escolha do proprietário de imóvel em relação a quais propriedades ele deverá averbar, por decisão judicial, sobre a existência de ações cujos resultados possam reduzi-lo à insolvência.
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– Deputados aprovaram, com 273 votos favoráveis, 184, contrários e sete abstenções, o artigo que permite a realização de parcerias público-privadas (PPPs) pelo Legislativo.
– Foi aprovada a redação final dos demais itens da MP 668/15, com as mudanças feitas pela comissão mista e pelos destaques aprovados pelos deputados. A matéria será enviada ao Senado.
* Estadão Conteúdo, Zero Hora e agências