Apesar de estudos recentes terem descartado o uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra o novo coronavírus e afirmarem que aumentam o risco de morte, esses medicamentos continuam causando polêmica. Em entrevista ao Notícia na Manhã, a diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) Ekaterini Simões Goudouris, reforçou que a questão deve ser analisada do ponto de vista técnico, não se trata de política.
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Para ela, estes medicamentos não podem ser vistos como a solução para a pandemia. Isolamento social e os cuidados médicos já demonstraram eficiência no controle da doença.
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O governo de Jair Bolsonaro recomenda os dois remédios para o tratamento de pacientes com sintomas leves do novo coronavírus.
Ekaterini Simões Goudouris relata que a tentativa de usar a cloroquina em infecções virais é antiga e diversos testes têm sido feitos com outros vírus. Embora existam evidências em laboratório, ainda são insuficientes para comprovar a eficácia da doença nos seres humanos.
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– Existir um efeito in vitro não quer dizer que terá o mesmo efeito no ser humano. O fato de diminuir a carga de vírus, que é uma coisa que efetivamente a gente vê que a cloroquina pode diminuir, isso não quer dizer que reduza ao ponto de fazer a diferença no desfecho clínico – explicou.
Ouça a entrevista:
Sem comprovação
Ekaterini reforça que a cloroquina tem sido usada na fase inicial da doença, quando 80% dos pacientes têm quadros leves. Isso torna impossível saber se foi este remédio o responsável pela cura. Para ela, o fato de o uso do medicamento ter se confundido com a política dificultou ainda mais a situação.
– Imediatamente os médicos, como eu, foram acusados de estar contra a medicação porque significaria estar contra o presidente. A questão toda é que essa discussão da hidroxicloroquina – afirmou.
Pra gente que é médico, é surreal a dimensão que isso ganhou… porque são discussões que são feitas a nível científico não é política – disse.
Na avaliação da médica, muitos defensores da coloroquina estão se baseando em estudos clínicos pequenos com resultados insuficientes para concluir se pode ser indicado para cura da covid-19.
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– Os estudos até agora, que não são bem feitos, tem demonstrado efeitos, mas não comprovaram uma diferença no efeito clínico e no efeito adverso. Ter efeito em 10 pacientes é muito diferente de ter efeito em 96 mil – ponderou.
Alternativa
Ekaterini alerta que a cloroquina não pode ser vista como uma saída para a doença, primeiro, porque não há comprovação de sua eficiência e depois porque há outros cuidados com os pacientes que já têm demonstrado resultado no controle da doença.
– As pessoas que estão saindo da doença não é por causa da hidroxicloroquina, são pessoas que têm assistência médica, têm oxigênio, tem outros cuidados. Isso não está sendo valorizado, é como se a hidroxicloroquina substituísse o cuidado médico, a internação, todo sacrifício que está sendo feito por profissionais de saúde no mundo inteiro – destacou.