Rumores sobre o uso de contas robôs para inflar perfis de políticos nas redes sociais ou incitar debates começaram no Brasil ainda em 2011. Nas eleições de 2014, institutos de pesquisa na área da tecnologia encontraram evidências da intervenção dos também conhecidos como bots para apoiar candidatos. Mas, nos últimos dois anos, o fenômeno se tornou mais escandaloso.
Continua depois da publicidade
Conforme dados que o Facebook apresentou a pedido do Senado americano, conteúdos falsos disseminados na plataforma durante a eleição presidencial alcançaram 126 milhões de cidadãos. No plebiscito do Brexit (em que britânicos votaram pela saída da União Europeia), estudo da University of London identificou que 13,5 mil robôs foram usados no Twitter para influenciar opiniões. Nessa mesma rede social, pesquisadores das universidades de Indiana e do Sul da Califórnia estimaram que até 15% dos usuários não são pessoas, cerca de 29 milhões de contas.
Esses androides são programas de computador que automatizam a interação nas contas, com objetivo de impulsionar indivíduos ou conteúdos, inflar número de seguidores, publicar ou curtir conteúdos de forma sistemática. Na prática, fazem um candidato parecer mais popular do que realmente é, promover e disseminar seu discurso ou atacá-lo massivamente. O resultado é o desvirtuamento do debate democrático.
As mídias sociais são hoje o canal direto e mais acessível entre o candidato e o eleitor. Neste ano, pela primeira vez a lei eleitoral permitirá propaganda com impulsionamento pago nas redes sociais. Por isso a importância do zelo de todos.
Utilizando ferramentas desenvolvidas pela Universidade de Indiana (EUA), a reportagem da NSC Comunicação analisou os perfis do Twitter de nove pré-candidatos ao governo de Santa Catarina. Da amostragem de mais de 800 seguidores analisados, cerca de um quarto foi apontado como potencial robô ou cujo comportamento nas redes levanta suspeita. Numa das contas analisadas, há seguidores até de países asiáticos, onde é conhecida a prática das chamadas “fazendas de bots”, que produzem contas falsas em troca de monetização.
Continua depois da publicidade
O resultado do levantamento da reportagem, no entanto, não indica necessariamente que esses políticos tenham adquirido robôs de forma deliberada ou estão sendo desonestos nas redes. A probabilidade é de que esses perfis automatizados estejam seguindo os pré-candidatos porque as conta dos catarinenses se tornaram mais populares e se tornaram um alvo atrativo para os androides.
Aos candidatos, fica o alerta de que entre seus seguidores podem não estar o seu público alvo. Aos eleitores, vale investir muito senso crítico e não compartilhar nada sem ter certeza de que a mensagem é verídica e confiável. Nos tempos da desinformação, sempre vale a reflexão: aquilo que você compartilha seria dito pessoalmente em público sem medo de se constranger?
Cristian Weiss
Editor do Diário Catarinense e integrante do Prova Real, iniciativa de checagem de fatos (fact-checking), boatos e discursos da NSC Comunicação.
Leia também
Prova Real: verificamos declarações dos presidenciáveis no Congresso de Prefeitos em Florianópolis
Projeto Comprova une redações do Brasil para combater notícias falsas nas eleições
NSC Comunicação integra coalizão de 24 veículos para investigar desinformação online nas eleições