Havana amanheceu nesta quarta-feira com céu encoberto e todas as bandeiras a meio mastro. Os cubanos estão de luto pela morte do presidente venezuelano Hugo Chávez. Porém, não apenas um luto oficial, de três dias, como determinou o governo dos Castro. O luto é real, entristece os normalmente sorridentes cubanos.
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Chávez é como um irmão dos filhos desta ilha que lhe recebia com frequência. O país foi um íntimo acompanhante de sua luta contra a enfermidade. Há poucas semanas, o venezuelano estava em Cuba para tratar a doença que lhe matou na tarde de terça-feira.
Em Havana, a capital soube da notícia em prestações. Passava das 17h, quando a TV estatal interrompeu a programação para mostrar o pronunciamento do vice-presidente Nicolas Maduro. Cena que foi reprisada ao longo da noite em todos os canais, abertos ou pagos.
O mesmo fez a rádio Rebelde, emissora oficial do regime que vive seu 55º ano. Após uma das inúmeras reprises das palavras de Maduro, subiu a trilha com a letra da música Comandante Amigo, um dos muitos tributos a Che Guevara.
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El pueblo está triste
el pueblo te llora
el pueblo está triste
pero no te fuiste Che
Comandante amigo
Desde as primeiras informações, o governo cubano tratou de mitificar a imagem do líder venezuelano. Declarou luto de três dias, que se encerra na sexta. Bandeiras a meio mastro, espetáculos públicos e festas estão cancelados. Nada que alterasse o vaivém de carros e que tirasse os jovens do Malecon, charmosa rua que serpenteia a costa de Havana.
Já nos restaurantes e cafés as TVs estacionaram nos noticiários sobre o falecimento. Na manhã de quarta, a morte do venezuelano já se configurou no assunto das ruas.
– Morreu Chávez! Morreu Chávez! – enfatizava um senhor enquanto oferecia o diário oficial Granma.
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A publicação transforma Chávez em mito. Traz a voz do governo, lamenta a morte do “comandante”, chama o venezuelano de “prócer da nossa América”, “líder supremo que encarnou Simon Bolívar”. O discurso de Maduro está na íntegra, acompanhado de uma página com fotos de Chávez com os irmãos Fidel e Raul Castro.
Com o Granma nas mãos, taxistas discutem o futuro da Venezuela. Nas praças também. Um senhor assegura que não mudará nada, que o capitalismo não vencerá a revolução bolivariana. O interlocutor discorda, teme pelo futuro.
O portuário Don Munoz saúda os feitos de Chávez, o brio por enfrentar as grandes empresas em favor dos interesses dos pequenos. Jamais se fala em ditadura, nos excessos de um regime que tem muito do seu modus operandi inspirado em Cuba.
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Na loja de charutos, entre Cohibas e Monte Cristos, a vendedora Carmen mantém os olhos fixos na TV. Ouve com expressão de dor os discursos, as homenagens, as comparações de Chávez com Simon Bolívar. Em menos de 24 horas, Chávez já surge feito mito para os cubanos.
– Era um homem muito querido aqui – diz Carmen, brecando o choro.
A consternação no rosto das pessoas chama atenção. É como se, para os gaúchos, ocorresse algo com o presidente uruguaio Pepe Mujica. A tristeza brota ao natural, irrigada pelas lágrimas do povo irmão.
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