O governo de Raúl Castro anunciou ontem o início da unificação do peso cubano e do peso conversível, que circulam em Cuba há 19 anos, em um processo que exclui “terapias de choque”, segundo uma nota oficial que não revela mais detalhes.

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“Foi acordado pelo Conselho de Ministros (Executivo) colocar em vigor o cronograma de execução das medidas que conduzirão à unificação monetária e cambial”, afirmou a nota publicada no jornal oficial Granma.

Em uma primeira etapa, o processo de unificação atingirá o setor empresarial com o objetivo de “propiciar as condições para o aumento da eficiência, a melhor medição dos fatos econômicos e o estímulo aos setores que produzem bens e serviços para a exportação e a substituição de importações”. Em um segundo momento, envolverá as “pessoas naturais”, completa o texto, sem explicar quando ou de que forma a medida será aplicada.

O peso conversível (CUC), em vigor desde dezembro de 1994 e equiparado ao dólar, equivale a 24 pesos cubanos, moeda com a qual os cubanos recebem salários insuficientes – US$ 20 por mês, em média – e pagam os principais serviços estatais. No entanto, os cubanos são obrigados a completar a cesta básica e a comprar outros produtos de primeira necessidade em uma rede de lojas que operam com o CUC, a preços inacessíveis. A eliminação da dupla circulação monetária, que gera uma grande desigualdade social e cria perturbação na contabilidade nacional, foi um dos principais pedidos da população a Raúl Castro durante os debates prévios ao VI Congresso do Partido Comunista de abril de 2011.

A dupla moeda também se transformou em um quebra-cabeça para a contabilidade nacional, pois a paridade CUC-CUP criou uma “distorção de toda a realidade econômica”, declarou o economista cubano Pavel Vidal, da Universidade Javeriana da Colômbia.

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– Essa distorção das medidas econômicas falseia todas as decisões tomadas pelas empresas e todo o planejamento centralizado – disse Vidal.

Os cubanos que usam CUC são os que trabalham para o turismo ou empresas estrangeiras, assim como os que se beneficiam de remessas familiares enviadas do Exterior, estimadas em US$ 2,5 milhões anuais.

Em 2004, o então presidente Fidel Castro retirou o dólar de circulação como resposta às restrições do embargo dos Estados Unidos e o deixou apenas como moeda de referência. Também desvalorizou o CUC em 8%. Em 2011, Raúl Castro, que substituiu seu irmão em 2006, voltou à paridade CUC-dólar.

As diferenças sociais geradas pelo peso conversível se acentuaram a partir de 2008, quando Raúl deu luz verde à ampliação do trabalho por “conta própria”, modalidade com a qual 430 mil cubanos ganham a vida, principalmente donos de restaurantes e salões de beleza e taxistas. Um clínico geral recebe salário mensal de 500 pesos cubanos, enquanto um mecânico por “conta própria” pode ganhar cerca de 400 CUC (9,6 mil pesos cubanos).

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O governo não informou que método seguirá para unificar as moedas.