Um grupo de universitários tem viajado pelo Brasil a cada período de férias para fazer uma série de manifestações contra temas que consideram oponentes à manutenção da família brasileira, como a homossexualidade e o aborto. Usando roupas formais, uma faixa dourada e com um estandarte, alguns tocam uma gaita de foles e trompetes, outros falam palavras de ordem com megafones que imitam modelos antigos.
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É a volta da sociedade Tradição, Família e Propriedade (TFP), agora sob vertente de uma nova entidade, nomeada Instituto Plínio Corrêa de Oliveira (IPCO) em homenagem ao fundador da organização que teve seu auge no período militar e que até hoje é conhecida como a entidade mais conservadora do Brasil.
Eles estiveram em Florianópolis há dez dias e não passaram despercebidos. Assim que começaram a tocar suas músicas nas principais ruas do Centro, bradando frases como “o homossexualismo é contra o mandamento” e “diga não ao aborto”, viraram alvo de comentários nas redes sociais.
Em resposta, jovens com posições contrárias às da IPCO foram ao Centro para fazer oposição.
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– É muito comum acontecer esse tipo de situação quando eles seguem o nosso roteiro. Em Curitiba, fomos até agredidos. O movimento homossexual é articulado, e como muitos ativistas vivem para a causa, acabam acompanhando o que estamos fazendo e mobilizam seus adeptos para fazer oposição à nossa cruzada – diz o paulista Daniel Martins, apontado como um dos principais nomes da Cruzada pela Família, nome cunhado pelo IPCO para movimento.
Daniel, 26 anos, é graduado em Letras. Diz que faz parte da instituição desde adolescente e que sua família já conhecia o trabalho da TFP e do fundador, Plínio Corrêa de Oliveira, morto em 1995. Alega que a afinidade com os ideais conservadores defendidos pela organização são naturais para os brasileiros, e que a mídia e intelectuais “ligados à esquerda” tentam difundir uma ideia de que os valores defendidos pela Cruzada são ultrapassados.
– Muita gente tem medo de dizer o que pensa, mas constatamos que o que deve permanecer é o casamento como Deus fez, entre homem e mulher.
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Seis cidades de Santa Catarina no roteiro
O ativista do IPCO Daniel Martins sustenta que a população brasileira é conservadora.
– O Datafolha fez uma pesquisa dizendo que a maioria dos brasileiros é conservadora. Esse barulho que as esquerdas fazem dizendo que a família tradicional é uma ideia ultrapassada, isso não é verdade – argumenta.
Além de Florianópolis, Daniel diz ter passado neste verão por outras cinco cidades catarinenses pregando os ideais da nova TFP: Mafra, São Bento do Sul, Joinville, Jaraguá do Sul, no Planalto e Norte catarinenses, e Blumenau, no Vale do Itajaí. O integrante do movimento afirmou ter saído com ótimas impressões sobre cada um dos municípios visitados.
– Recebemos muitas manifestações de apoio, muita gente vinha conversar conosco, dizer que estamos certos em defender o fim desta ditadura homossexual. Até tivemos reações contrárias em Joinville, mas eram uns dois gatos pingados que nem faziam barulho – afirma Daniel, que percorre as cidades com um grupo de cerca de 40 pessoas.
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Marcha da Família foi marco em 1964
Fundada em 1960 por Plínio Corrêa de Oliveira, a Sociedade Brasileira em Defesa da Tradição, Família e Propriedade foi criada com o objetivo de defender a propriedade privada, o fim do comunismo e a proibição do divórcio.
Apesar de ser composta fundamentalmente por católicos, a TFP não é uma entidade nascida a partir de quadros da Igreja Católica. Até a década de 1970, suas principais manifestações voltavam-se contra a reforma agrária, contra as alas de esquerda da Igreja e o chamado relaxamento moral.
Entre as principais ações da época, destaca-se a participação na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, manifestação que reuniu cerca de 500 mil pessoas em São Paulo em 19 de março de 1964, legitimando o golpe militar, e a elaboração de um abaixo-assinado contra o divórcio, que reuniu 1 milhão de assinaturas em 50 dias em 1966.
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O divórcio foi reconhecido por lei somente 11 anos depois do ato. A doutrina da TFP era fundamentada na obra Revolução e Contra-Revolução, lançada por Plínio em 1959.
Após a morte do pensador, em 1995, a organização enfrentou disputas internas. Surgiram, então, outras instituições, cada uma liderada por fundadores da TFP. É o caso do IPCO, fundado por um primo de Plínio, o engenheiro Adolpho Lindenberg.
Coincidências entre as duas cruzadas
Apesar de dizer que a escolha pelo estandarte, as vestes e os instrumentos musicais foi ao caso, as manifestações da Cruzada pela Família lembram o vestuário da TFP nos primeiros anos de atividades.
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Enquanto antigamente a organização ostentava um estandarte e uma espécie de manto vermelho, os jovens que viajam pelo Brasil adotaram o dourado como a cor oficial da caravana.
– O símbolo do instituto foi desde o início o que está no estandarte, o perfil do Dr. Plínio sendo o nosso brasão. Escolhemos o dourado porque é uma cor bonita. Posso dizer que ela representa a nobreza dos nossos ideais – diz Daniel.
O uso de instrumentos musicais também era uma marca da TFP nas passeatas. Para manter a tradição, os novos cruzadistas tocam, em sua maioria, trompete. Uma gaita de foles, instrumento típico escocês, começou a ser usada mais recentemente. Segundo Daniel, trata-se de uma forma de chamar a atenção do público.
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