Fomos assistir a 12 Anos de Escravidão e saímos do cinema completamente impactados com a força do filme, pela história monstruosa e verdadeira que ele narra. Voltamos para casa, no carro, praticamente sem trocar palavra, cada um absorto em seus pensamentos.
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Como alguém pode tratar outros seres humanos dessa forma? Por que alguns acreditam ser tão melhores do que os outros, a ponto de se acharem seus donos? Por mais que eu já tenha lido e assistido a filmes e documentários sobre escravidão, as cenas de açoites nunca me chocaram tanto. Acho que todos, naquela sala, ficaram incomodados.
Mas era isso, com certeza, o que queria Steve McQueen, o diretor. É meu filme favorito ao Oscar.
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Dia seguinte, abro o jornal e leio sobre os casos de racismo registrados por aqui nestes últimos dias. Parece mentira que isso ainda aconteça em 2014. O volante Tinga, do Cruzeiro, foi hostilizado pelos peruanos, na cidade de Huancayo, durante uma partida contra o Real Garcilaso. Foi revoltante. Tinga, depois, comentou que nunca esperava algo assim, especialmente daquelas pessoas, que também sofrem preconceito quando vão trabalhar em outros países.
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– Eu fiquei mais surpreso ainda porque me identifiquei muito com o lugar, era muito pobre. Se tem um lugar que eu não esperava que isso fosse acontecer, era lá – ele disse.
Realmente, o preconceito, muitas vezes, vem de onde menos se espera.
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Depois veio o caso daquela australiana, residente no Brasil há cinco anos, que se recusou a ser atendida por uma manicure negra num salão de beleza, em Brasília. Chamou-a de “raça ruim” e exigiu que outra funcionária a atendesse.
O caso evoluiu com a chegada da polícia, e ela acabou presa por racismo. Como sempre, claro, ganhou a liberdade em seguida, graças a um habeas corpus. Se condenada pela Justiça, segundo a lei, ela poderá pegar até três anos de prisão. Alguém acredita nisso? Eu não. Não há um preso sequer no Brasil por este crime – o próprio Ministério da Justiça reconhece isso. E é por causa da impunidade que as coisas não mudam por aqui. Uma vergonha.