“Já falei aqui sobre o distanciamento afetivo que muitas vezes passa de geração em geração e que interfere em nossas vidas para sempre. A falta de abraços e beijos, de palavras afirmativas, do eu te amo alto e claro para que não reste dúvidas do amor entre pais e filhos. Acredito que a relação aluno x professor também seja impactada por esse distanciamento.

Continua depois da publicidade

*****

Na escola, por um bom tempo, fui uma estudante nota oito e nada popular. Não fazia parte do grupo dos gênios e também não era destaque no esporte. Ou seja, não estava na lista dos preferidos pelos professores. Hoje vejo que no quesito emocional o colégio era uma extensão de casa, com poucas expressões de afeto. E quando elas existiam, restringiam-se aos que se destacavam, o que desmotivava os demais, inclusive eu.

*****

Mas assim como não é tarde para começar a dizer eu te amo para familiares e amigos, nunca é demais para ter esperança de que tudo pode ser diferente. E foi. Lembro-me, ainda hoje, quando a professora de Educação Física optou pelas aulas de dança em dias de chuva, já que as quadras não eram cobertas. Eu conseguia acompanhar o ritmo das músicas, tinha facilidade para decorar as coreografias, estava gostando daquilo pra valer. Minha alma sorria. A professora notou e, do fundo da sala, puxou-me para a linha de frente. Um voto de confiança que mexeu demais comigo porque finalmente alguém enxergava que eu tinha algum talento.

Continua depois da publicidade

Negra, fã de Michael Jackson, dona Elenice não perdeu a chance de nos motivar avisando sobre o lançamento de um clipe, no Fantástico. Esperei com aquela ansiedade. Quando Black or White começou, os olhos pareciam ter desaprendido a piscar. Memorizei os passos, ensaiei e, na segunda-feira, o coração disparou ao ouvir a música na sala de aula. Mostrei o que sabia e consegui impressionar a professora.

*****

A partir daquele momento, nunca mais fui a mesma garota. Descobri o que é acreditar em si mesmo. E pergunto: o que fazemos quando temos a sensação de que tudo é possível? Investimos nossos esforços e colhemos os frutos. No meu caso, a admiração e a confiança da professora e dos colegas. Portanto, termino deixando um recado aos professores: gênio ou não, a criança tem necessidade de se sentir notada, de ter direito a alguns minutos do seu tempo. Preferências são naturais, não saber lidar com elas e tornar essa afinidade um problema, isso sim, é preocupante.”

*** Adriana Krauss nasceu em Blumenau, no Vale do Itajaí. Lá começou a carreira de jornalista ainda cursando a faculdade de Letras. Mais tarde, concluiu Jornalismo. Passou por diferentes emissoras até chegar à RBS TV Blumenau, onde atuou como produtora, editora, repórter e apresentadora de todos os telejornais.

Em 2004, foi convidada para trabalhar na RBS TV de Florianópolis. Na capital, atuou em grandes coberturas como a tragédia de 2008, quando cerca de 130 pessoas morreram no Estado por causa da chuva e dos deslizamentos. Na ocasião, atuou exclusivamente com a equipe que atende à Rede Globo em SC fazendo reportagens e participações ao vivo, inclusive na edição do JN em que William Bonner ancorou o jornal em Blumenau.

Continua depois da publicidade

O trabalho rendeu uma citação no livro Jornal Nacional – Modo de fazer, de autoria de Bonner. Em julho do ano passado, depois de várias substituições na bancada do Bom Dia SC, assumiu a apresentação do jornal matinal da RBS TV e passou a ser editora-chefe do programa, onde está até hoje.