A palavra verão ressoa um tanto mágica e nos transporta imediatamente a um mundo paralelo, onde os sonhos se tornam possíveis e passamos a acreditar que tudo vai ser melhor no ano que há de vir. Pois bem, faço parte de um grupo voluntário que presta assistência aos estrangeiros em Florianópolis e, como tal, observo que os gringos não estão imunes a essa atmosfera quase surreal que o verão assume por aqui.

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E como não só de caipirinhas, praias e festas vive o estrangeiro; entram na onda brasileira do “deixa pra lá” e se perdem irremediavelmente nas curvas das praias e das belas mulheres brasileiras, invejando a fluência de Tom Jobim quando declamava para quem tivesse o prazer de ouvir: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina que vem e que passa no seu rebolado a caminho do mar…”

E os brasileiros, sempre ávidos por agradar, gostam de mostrar o quanto conhecem o inglês e que se viram muitíssimo bem, seja com o sotaque chiquérrimo da rainha mais famosa do mundo ou com o sotaque da terra da Big Apple e do tio Sam ou, quiçá, com um sotaque meio dundee surfista – dos gringos australianos que se aventuram por essas terras brazucas já dantes navegadas.

Mas é nessa brincadeira que muitos se perdem e surgem gafes homéricas, como foi o caso de uma colega que, ansiosa para elogiar os olhos verdes da turista americana e querendo dizer “que olhos lindos você tem” (beautiful eyes), disse na verdade: “Que ?ovos? lindos você tem” (beautiful eggs). A americana se pôs então a rir ensandecidamente, mas a sorte é que o elogio não foi para um homem, que certamente ficaria envergonhadíssimo de tamanha ousadia de uma brasileira.

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Não é só brasileiro que dá bola fora em outra língua. Aliás, minha avó lembrou-se de um caso que acontecera há um tempo numa cidade vizinha a Florianópolis. Um belga viera passar o verão no Brasil e se apaixonou perdidamente não só pelo sol e o calor mas principalmente por uma bela mulata trigueira de olhos esverdeados e curvas instigantes. Não deu outra. Casaram-se naquele verão e, muitos verões depois, tiveram filhos e netos, mas o belga, que Deus o tenha, nunca aprendera a falar o português como manda o figurino.

Um dos netos, para orgulho da família, tornara-se o farmacêutico da cidade e era sempre procurado para resolver os males mais diversos, desde calos a doenças inexplicáveis. Num desses dias de verão causticante, dois senhores ansiando os remédios milagrosos foram até a casa do neto farmacêutico, que se chamava Antonio, ou Tonho, para os íntimos. O belga os atendeu com um aceno.

– Olá, senhor, estamos procurando por Antonio. Uma moléstia acometeu minha filha e dele precisamos com urgência!

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– Tonho não.

– Ah, o Antonio não está em casa? Então, onde podemos achá-lo?

– Tonho fumaça.

– Meu Deus! Ele pegou fogo e virou fumaça? Que tragédia.

E os dois senhores ficaram chocados por tantas horas até que a esposa brasileira do belga explicasse que o marido nunca havia aprendido o português propriamente e o que ele queria dizer na verdade não era “fumaça” e sim “farmácia”; que o Tonho, na verdade, estava agora na farmácia.

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