Sempre que me perguntavam se um de meus filhos seguiria o jornalismo – profissão dos pais – eu dizia:
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– Espero que não. Exige muito, a gente trabalha nos finais de semana, Natal, Ano-Novo, feriado, deixa de comparecer a muitos eventos familiares importantes e o salário, perto de outras categorias profissionais com igual escolaridade, é muito baixo.
Hoje, eu acrescentaria mais um motivo para não querer um filho jornalista, especialmente se ele fosse um destes repórteres que cobrem eventos na rua: é muito perigoso.
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Os jornalistas não precisam subir morro e enfrentar traficantes para colocar a vida em risco. Basta estar na rua, trabalhando. Foi o que aconteceu com o cinegrafista da Rede Bandeirantes, que teve sua morte cerebral anunciada na manhã de ontem. Santiago Andrade foi atingido na cabeça por um rojão quando registrava o confronto entre manifestantes e policiais durante protesto contra o aumento da passagem de ônibus, no Centro do Rio.
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A manifestação, como todas as outras que têm acontecido no Brasil, era para ser pacífica. Mas, mais uma vez, não terminou assim. E quem já não sabia disso? O que mais se vê na televisão e se lê nos jornais são os atos de vandalismo, provocados por delinquentes, a maioria deles escondendo o rosto com máscaras e capuzes, para justamente não serem reconhecidos pelas câmeras e testemunhas. Assim, permanecem impunes, barbarizando pelas ruas, quebrando tudo o que vêm pela frente e tocando terror na população.
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Parece ironia: ano passado Andrade participou do curso para jornalistas em áreas de conflito, ministrado pelo Exército. Acostumado a trabalhar em situações de risco, com certeza ele nunca imaginou que pudesse morrer vítima da explosão de um rojão, em pleno centro da cidade onde morava. Só que a violência, hoje, está em todo lugar, e a qualquer hora. E a vida vale cada vez menos.