Que o Novo Mundo já era habitado antes dos descobrimentos, todos sabemos. Também sabemos que os que por aqui viviam foram erroneamente chamados de índios. Nossos historiadores nos contam que algumas tribos da região sul foram batizadas de xokleng.

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O livro A História de Araranguá, de Paulo Hobold, nos dá conta que foram os xokleng quem por primeiro procuraram as praias próximas ao Rio Araranguá para passar os meses mais quentes. Os silvícolas não procuravam só o clima ameno, mas também a subsistência.

Acreditamos nesta premissa para explicar por que os araranguaenses que nos antecederam também buscaram a orla marítima, se não para a sustentabilidade, pelo menos para aliviar a carga. Com o passar dos anos, o costume de residirmos, nos meses de verão, nos balneários Arroio do Silva ou Morro dos Conventos, passou de uma necessidade para uma situação de conforto.

No início, vieram, de cima da Serra, a exemplo dos xokleng, muitas famílias de gaúchos. Vieram e ainda vêm. Muitas dessas famílias fixaram residência no balneário. Os Lunardelli, os Scaini, os Boeira, os Paim são alguns exemplos. Nos primeiros anos de convívio entre gaúchos e catarinenses, que se julgavam donos do ambiente, houve uma surda disputa. Quase todos se conheciam e se intitulavam amigos. Ainda assim, era grande a rivalidade. Em tudo, havia uma espécie de disputa por espaço. Mas a rivalidade se acentuava nos namoros.

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Era comum, as noitadas dos bailes no salão do Scaini, ou na Boite Mar Velho, do seu Boeira, terminarem em algum entrevero. Se não era uma briga de verdade, pelos menos tinha algum alvoroço entre catarinas e gaúchos.

Numa noite, nos salões da Boite Mar Velho, a confusão começou pra valer. Presume-se que a causa foi alguma garota. A briga foi parar nos combros de areia que circundavam a boate. O meu amigo Tatuíra, que entrava na confusão só para ver como iria terminar a corrumaça, como dizia, também participava desta.

Acontece que o nosso saudoso e conhecido araranguaense gostava da boemia, o que, às vezes, lhe fazia trazer em sua fisionomia os traços de uma noitada bem aproveitada e mal dormida, como por exemplo, os olhos avermelhados pela insônia.

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O povo conta que, como normalmente acontecia, o entrevero terminou sem maiores danos. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Sobraram só os comentários dos participantes.

Uns se gabavam pelo soco bem dado, outros reclamavam da brutalidade das pernadas recebidas… Foi quando um gaúcho que não conhecia o Tatuíra fez o comentário, que o próprio Tatuíra contava e indisfarçável alegria:

– Pessoal, viram como aquele baixinho ficou valente? Estava tão brabo que os olhos dele ficaram vermelhos.

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Ao comentar este causo, Tatuíra, que não era de briga, concluía rindo:

– Não dei um tapa em ninguém. Só andei ao redor da corrumaça.

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