Sexta-feira. Dia de supermercado cheio. Dou voltas e mais voltas com minha mãe pelo estacionamento e não encontro uma vaga. Até que me dou conta: estou com uma senhora prestes a fazer 76 anos no carro e posso estacionar numa vaga para idosos. Afinal, é para isso que elas existem. Perguntei ao manobrista da garagem do mercado onde eram as vagas e ele disse:
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– São as mais perto da entrada da loja, mas duvido que as senhoras consigam uma vaga ali. São as primeiras a serem ocupadas, ainda mais na sexta, quando tem muita gente por aqui.
– Eu não sabia que os idosos preferiam vir ao mercado às sextas – falei.
Ele deu um daqueles sorrisos amarelos de quem fica sem jeito.
– Olha, senhora. Eu sei que não devia dizer isso, mas mais de 80% das pessoas que colocam seus carros nas vagas reservadas não são idosos não. É gente nova, que tem preguiça de procurar outro lugar e quer estacionar bem na entrada da loja. ?
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Claro que eu sabia disso. A mesma coisa acontece com qualquer outra vaga ou fila reservada para idosos. Todo mundo quer levar vantagem. Então, perguntei:
– Mas por que você não diz a esses motoristas que as vagas são para idosos e deficientes? A resposta me deixou perplexa.
– É que a gerência não quer se incomodar com isso e tem medo de perder os outros clientes. Nossa ordem é só para evitar barracos e escândalos. Agora entendi. Isso deve acontecer também nos ônibus – nunca vi um cobrador pedir para alguém levantar e dar espaço a um idoso ou deficiente nos bancos da frente, mesmo que eles tenham prioridade. ?
Ficamos paradas dentro do carro, naquele supermercado, esperando um pouco para ver quem estava ocupando as vagas de idosos. Não demorou muito e apareceu uma jovem, aparentando menos de 30 anos, que entrou num Corsa, sozinha. Mais uns minutos e saiu um homem. Depois, um casal com um menino. Fiquei pensando: ou esse pessoal encontrou a tal fonte da juventude eterna ou então realmente aquela figurinha mostrando ser lugar reservado a idosos e deficientes está ali só para decorar o ambiente, já que ninguém – ou quase ninguém – respeita.
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