Algumas verdades femininas são definitivas: elas amam sapatos, adoram o Brad Pitt e odeiam camisa regata no seu parceiro. Se o camarada, então, tiver tufos de pelos embaixo do braço, ali, na axila, é certo como a morte que ele trocará de camisa antes de sair de casa. Também é absolutamente vero que, repetindo, elas conseguem tudo que querem, seja acompanhá-la em compras na Victoria Secret, seja correr no deserto de Mojave no calor de Las Vegas.
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Tem também a hora da matraca, que é aquela em que ela, didaticamente, repete todas aquelas coisas que já falou e você segue fazendo errado. Depois da festa de fim de ano, então, tem um prato cheio para ser servido: já disse para não misturar bebidas em festa; não fica bem contar piada com palavrão, sobre homossexual, judeu ou sogra. De orelha baixa, você em silêncio concorda, concorda, esperando o fim.
Outra coisa, insiste ela: a gostosa! Na festa, a gostosa é filha do dono da casa ou a mulher de alguém. E quando a gostosa passa é porque ela, a gostosa, foi pegar um canapé ou está indo ao banheiro, ok? Não é para ficar olhando. Pensa em outra coisa: no Schumacher, por exemplo. E por aí vai um rosário de variações do toma-jeito, criatura!
A hora da matraca também comporta queixas sobre a casa, a troca de carro e a necessidade de comprar uma nova bolsa Louis Vuitton na lojinha da 5th Avenue, sim, em New York, cabeção! E você ali, suando lágrimas de horror, convencido de que, sendo um cão, precisa sim expiar suas culpas, seu comportamento social abominável, e ir às compras na Big Apple. Claro que antes disso, você aproveitou a deixa e desancou o pau na família dela, na joça das novelas e nessa mania infinda de encher a vida do sujeito marido. Sim, dá discussão.
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Neste fim de ano, como no ano passado, elegi como desejo de Ano-Novo ser uma pessoa mais controlada, não discutir, ser mais gentil, ser solidário e agir como um cidadão. No ano passado durou 72 horas, porque no terceiro dia – claro, que sem culpa minha – me vi no meio de uma discussão azeda.
Em 2014, vou batendo meu recorde: mais de três dias e eu só na base do “por favor”, “com licença”, “pois não”. Discussão zero, tendo inclusive ultrapassado uma longuíssima “hora da matraca” na viagem Atlântida-Jurerê e seus engarrafamentos. Como um boxeador acuado no canto do ringue, apanhando e apanhando, resisti como pude às justificadas críticas, às cobranças e a alguns safanões merecidos. No hotel, quando nos entregam o carro, me antecipo ao bellboy e abro a porta para a patroa. “É bom esse Demi”, devem pensar os transeuntes, “13 anos depois e ele ainda abre a porta”. Ou “deve ter muita culpa acumulada para expiar”. Nada, tudo isso é a fase Madiba do cara: tolerante, gentil e pronto para ajudar o próximo.
No super, vejo uma esposa na padaria acenando para o marido no setor hortigranjeiro. Ele não vê, ela passa a gritar, ele passa a ligar no celular. Ela faz o mesmo, e, claro, dá ocupado. O Demi foi lá e avisou ao marido-fone que sua esposa-fone estava lá, 30 passos adiante. O marido-fone agradeceu efusivamente e sua esposa-fone me deu um belo sorriso. É bom esse Demi, um Madiba que não discute com ninguém e ainda reúne casais perdidos.
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