A crise venezuelana entra nesta semana em uma nova etapa de tensões, com o país sob estado de exceção e os opositores decididos a seguir a pressão nas ruas por um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

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Em meio ao descontentamento popular pela escassez crescente de alimentos básicos e remédios, além dos cortes diários de luz e água e a maior inflação do mundo, Maduro deu mostras de radicalismo nos últimos dias.

Na sexta-feira, prorrogou um decreto de emergência econômica em vigor desde janeiro, mas de forma surpreendente acrescentou a ele o estado de exceção por três meses. Não descartou, inclusive, prorrogá-lo sucessivamente até 2017.

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Espera-se que, nesta segunda-feira, sejam divulgados os alcances da medida, que costuma restringir o direito de protesto e de reunião, e autorizar detenções e buscas sem ordem judicial.

Por enquanto, Maduro ordenou tomar as indústrias paradas, colocando na mira quatro fábricas da cervejeira Polar – principal produtora de alimentos e bebidas do país – fechadas por falta de divisas para comprar insumos no âmbito do ferrenho controle cambial.

O governo justifica o estado de exceção por um suposto complô dos Estados Unidos e de líderes opositores para intervir no país com as maiores reservas de petróleo do planeta, sob o pretexto de uma crise humanitária.

Diante desta “ameaça externa”, Maduro ordenou a realização no próximo sábado de exercícios militares.

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O presidente também fundamenta o estado de exceção na necessidade de tomar medidas drásticas contra a “guerra econômica” que, segundo ele, a oposição e a direita executam para levar à escassez e lançar o povo contra ele.

Neste contexto, mobilizou um plano para o abastecimento de produtos básicos subsidiados sem intermediários e comprometeu-se a flexibilizar o controle de preços em troca de que algumas indústrias elevem a produção.

Estado de exceção à prova

No entanto, os sinais de radicalização vão além do presidente socialista, cuja gestão é reprovada por 68% dos venezuelanos, segundo a empresa Venebarómetro.

O vice-presidente, Aristóbulo Istúriz, rejeitou no domingo a possibilidade de que o herdeiro político do falecido Hugo Cháfez (1999-2013) deixe o poder mediante um referendo.

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– Aqui Maduro não vai sair por referendo, porque aqui não vai haver referendo. (…) Eles sabem que não vai haver referendo, porque primeiro o fizeram tarde. Segundo, o fizeram mal e, em terceiro, cometeram fraude – disse Istúriz, ao falar das assinaturas entregues pela oposição para que o processo seja ativado.

– Terão que matar a todos nós antes de dar um golpe parlamentar – advertiu, em referência ao fato de a oposição controlar amplamente o Legislativo desde janeiro.

O estado de exceção será colocado à prova na próxima quarta-feira, quando a oposição planeja marchar em direção às sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em todo o país, pedindo o cumprimento dos prazos para que o referendo revocatório seja realizado neste ano.

– A oposição sabe que o protesto é o único mecanismo para escalar a pressão, e o governo precisa deter essa tendência – disse o analista Benigno Alarcón.

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Mobilizações similares foram bloqueadas na última quarta-feira por policiais e militares, desencadeando confrontos. O líder opositor Henrique Capriles, atingido por gás lacrimogêneo na ocasião, advertiu no sábado sobre o risco de que o governo e o CNE -acusado por ele de servir a Maduro – “tranquem” a consulta.

– A Venezuela é uma bomba que a qualquer momento pode explodir. E, portanto, convocamos todo o povo a se mobilizar para o revocatório – comentou, ressaltando que essa é a saída pacífica à crise.

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* AFP