A crise que atinge o Brasil se reflete na arrecadação de três municípios com perfil exportador do Norte do Estado. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que, no primeiro bimestre deste ano, Joinville, Jaraguá do Sul e São Bento do Sul tiveram queda nas receitas, assim como o Estado. Juntos, os três municípios têm parcela significativa (23,8%) de participação no comércio internacional de SC.

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Na avaliação da presidente da Câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Maria Teresa Bustamante, o resultado é reflexo do momento que vive o País. Conforme a especialista, o sobe e desce da cotação do dólar não traz benefícios imediatos para as empresas com atuação no mercado internacional.

– A alta do dólar não está seguindo uma curva que se sustenta ao longo do tempo. Ela é vinculada muito a questões políticas, e o mercado externo não trabalha com essa gangorra. Quando o dólar não tem valorização contínua, sem oscilações, é difícil fazer um planejamento. E se a moeda sobe e desce muito rápido, o resultado não é sentido nas exportações – diz Maria Teresa.

Cidade com o maior produto interno bruto (PIB) do Estado, Joinville foi quem menos sentiu a diferença – arrecadou apenas 0,57% a menos na comparação entre os dois bimestres. Já São Bento do Sul (-29,19%) e Jaraguá do Sul (-25,22%) recuaram bem mais nas receitas mesmo em um período de dólar cotado mais alto. No Estado, a queda na arrecadação foi de 4,16%.

E o que isso significa? Que o preço mais alto da moeda norte-americana nem sempre representa lucratividade.Maria Teresa ressalta que é importante levar em conta outros fatores numa análise de mercado. Um deles é a pressão exercida pelo mercado internacional para baixar os preços das mercadorias vendidas em dólar. Muitas vezes, os negócios são fechados nestas condições, o que impacta nos resultados.

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Segundo ela, outro problema é a matriz de insumos das empresas, quase sempre negociada em dólar. Dessa forma, quando as vendas no mercado externo diminuem, o jeito é buscar insumos no mercado nacional.

Os números também ajudam a explicar esse comportamento. No primeiro bimestre de 2015, Joinville exportou 50,22 mil toneladas em produtos e obteve receita de US$ 157,3 milhões. No mesmo período deste ano, o volume aumentou para 54,53 mil toneladas (+8,58%), mas a receita caiu para US$ 150 milhões (-4,86%). Isso ocorre porque as empresas baixam os preços de seus produtos e substituem os insumos.

Em Jaraguá do Sul, o volume exportado no primeiro bimestre de 2015 foi de 16,54 mil toneladas, e a receita, de US$ 86,6 milhões. No mesmo período deste ano, o volume aumentou para 17,02 mil toneladas (+2,89%) e a receita caiu para US$ 62 milhões (-28,40%).

Em São Bento, onde o setor moveleiro é destaque, o volume negociado no primeiro bimestre de 2015 foi de 21,25 mil toneladas, com receita de US$ 25,7 milhões. No mesmo período deste ano, o volume caiu para 11,32 mil toneladas (-87,72%), e a receita, para US$ 16,2 milhões (-37,0%).

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No Estado, o volume exportado passou de 786,8 mil toneladas, em 2015, para 801,1 mil toneladas em 2016 (+1,81%), e a receita caiu de US$ 1,08 bilhão para US$ 955,8 milhões (-12,07%).

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Retração impacta nos preços

Para o gerente da Manchester Investimentos, Luis Leci, a valorização do dólar pode ser benéfica, sim, para os exportadores brasileiros, mas a lucratividade nos negócios não chega a causar grande impacto por causa do cenário econômico atual.

– O mundo está mais competitivo e o maior mercado consumidor do planeta, a China, vem comprando menos produtos e menos matéria-prima dos outros países. Isso impacta no mundo inteiro – ressalta.

Na opinião de Leci, a queda de demanda também faz com que os preços dos produtos brasileiros caiam no mercado internacional. Outro aspecto importante, diz o analista, é que a indústria nacional, de um modo geral, não consegue atualizar o parque fabril para enfrentar a concorrência.

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Além disso, diz Leci, a precária infraestrutura das rodovias e dos portos no País deixa o transporte e os produtos nacionais mais caros, que reflete na perda de competitividade.

Novos produtos para desafiar o mercado

A aposta em novos produtos e com maior valor agregado é apontado pela presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Carla Pinheiro, como uma alternativa para driblar a crise. Segundo ela, esses produtos conseguem encontrar espaço no mercado internacional e competir em igualdade de condições com as grandes marcas. Mas esta realidade não é vista em todos os setores.

Carla afirma que a oscilação do dólar – que chegou a superar a barreira dos R$ 4 e hoje está na faixa dos R$ 3,60 – é ruim para os negócios e atrapalha o fechamento de contratos mais longos. Contudo, a especialista ressalta que a valorização da moeda norte-americana favorece não apenas as exportações brasileiras, mas também proporciona maior lucratividade.

O desafio é encontrar a fórmula certa. Conforme Carla, o Brasil é um grande negociador de commodities – produto de baixo valor agregado e com grande volume de comercialização no mercado internacional – e o preço da commodities no exterior não está bom.

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– Os compradores desses produtos diminuíram as importações, fazendo com que o preço caia. Com isso, a lucratividade na exportação por causa do dólar alto também não acontece.

Os setores que mais se beneficiam neste momento de crise, reforça a especialista, são os que utilizam menos insumos dolarizados em sua industrialização, conseguindo preços mais competitivos no mercado internacional. Carla constata ainda que os empresários estão arriscando menos devido à incerteza do momento político e econômico. Preferem aguardar um novo cenário e uma visão real das economias para tocar novos projetos.

– Muitas empresas estão se reinventando, realizando estudos e aplicação de novos produtos em novos mercados.

As maiores empresas exportadoras em 2015

Acima dos US$ 100 milhões

– WEG – 55º lugar

– Tupy – 79º lugar

– Whirlpool – 84º lugar

Entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões

– Schulz – 363º lugar