Já não se vê tantos canteiros de obras nas paisagens de Santa Catarina como até alguns anos atrás, um reflexo da crise econômica que deixou marcas mais visíveis no ano passado e que mantém puxado o freio da construção civil no Estado também em 2016.

Continua depois da publicidade

Levantamento da Federação das Indústrias de SC (Fiesc) em parceria com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) aponta que a indefinição política não estimula investimentos no setor e que as mudanças nas regras de financiamento (veja quadro) não devem impulsionar novos lançamentos a curto prazo.

O relatório mais recente da entidade mostra que três em cada quatro empresas consultadas (74%) em fevereiro registraram nível de atividade reduzido em relação ao usual e quase metade (46%) perdeu empregados entre janeiro e fevereiro. As projeções para os seis meses seguintes também não são animadoras: pelo menos quatro em cada dez empresas projetam redução de pessoal (45%) e das atividades (47%), enquanto a maioria (55,5%) prevê menos investimentos em insumos e matérias-primas. Seis em cada dez empresas (60%) ainda projetam queda quanto a novos empreendimentos e serviços. Quase todas as indústrias consultadas (94,4%) responderam não ter previsão de investimento nos próximos seis meses.

Leia mais notícias de economia

Continua depois da publicidade

Em Florianópolis, a Prefeitura emitiu cerca de 40 alvarás a mais para construção nos dois primeiros meses de 2016 se comparados com o primeiro bimestre do ano passado. Mas o avanço é tímido e não deve alcançar os mesmos patamares de anos anteriores – o novo Plano Diretor do município, que vigorou em 2014 e hoje passa por reavaliação, tornou as análises mais rigorosas e segurou o volume de aprovações.

– Nunca chegaremos ao volume de aprovações que tínhamos no passado. A cidade sofreria um colapso em pouco tempo porque não contaria com o acréscimo correspondente em infraestrutura. A intenção é aprovar menos, mas agregando valor às aprovações – diz o secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Florianópolis, Marcelo Martins da Rosa.

Em 2013, a Prefeitura aprovou 1,5 milhão de metros quadrados para construção. No ano passado, as autorizações se reduziram a cerca de 600 mil metros quadrados. Por outro lado, defende o secretário, a tramitação dos projetos ganhou agilidade. Hoje, a média é de oito a 12 semanas até a aprovação. A esperava chegava a ser de um ano em 2015. As filas para a documentação chegar no setor de análise e a fila do setor de consulta de viabilidade foram zeradas.

Continua depois da publicidade

Sindicato aposta em “fato novo” na política para mudar cenário

As mesmas facilidades de financiamento para quem pretende comprar um imóvel não se repetem para quem constrói, aponta o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon), Hélio Bairros. Sem acesso a crédito, a indústria se vê obrigada a produzir com recursos próprios. Hoje, analisa Bairros, o que impulsiona a construção civil são os imóveis na faixa intermediária, entre R$ 300 a R$ 500 mil, que têm maior aceitação no mercado.

Segundo o presidente do Sinduscon, os empresários vivem a expectativa de que um “fato novo” no cenário político possa dar margem a projeções mais otimistas.

Continua depois da publicidade

– As incorporadoras não veem um cenário diferente para o restante do ano. Mas, se houver mudanças na condução política, independentemente de quem estiver no governo, o segundo semestre pode ser diferente melhor – palpita.

Em Balneário Camboriú, aposta segue nos imóveis de luxo

A exceção em meio à crise tem acabamentos de alto padrão e as praias de Balneário Camboriú como pano de fundo. Na badalada cidade do litoral Norte, a turbulência econômica sequer balançou o mercado de imóveis de luxo. Lá, cerca de 95% dos lançamentos são voltados a quem pretende desembolsar a partir de R$ 500 mil ou mesmo cifras milionárias por um lugar à sombra.

– Temos um dos menores territórios do Estado e o preço do terreno é muito alto. Então, não se consegue viabilizar outro tipo de construção que não seja esse. Não tivemos retração de preços nem de vendas dos imóveis – explica o presidente do Sinduscon na região, Carlos Humberto Metzner Silva.

Continua depois da publicidade

Como a revisão do Plano Diretor do município esteve em discussão por três anos, acrescenta Carlos Humberto, a Prefeitura ficou dois anos sem receber pedidos de novos alvarás. Assim, a oferta caiu pela metade e colaborou para que os empreendimentos já erguidos não sofressem alteração de preço.

Caixa prevê aumento de 13% em financiamentos

Na tentativa de estimular o financiamento imobiliário, a Caixa Econômica Federal anunciou em março uma série de medidas de crédito que passou a valer no último dia 24. Menos de um ano depois de ter reduzido para 50% o teto de financiamentos para imóveis usados de até R$ 650 mil, o banco aumentou o limite para 70%, para trabalhadores da iniciativa privada, e de 60% para 80%, para servidores públicos.

Outra mudança é a reativação do financiamento de um segundo imóvel, nas mesmas condições para financiar o primeiro, modalidade vetada em agosto do ano passado para clientes que já tinham um imóvel financiado.

Continua depois da publicidade

Segundo a presidente da Caixa, Miriam Belchior, durante anúncio no início do mês, as medidas devem promover uma elevação de 13% dos recursos destinados ao crédito à habitação, ou R$ 16,1 bilhões. O aumento da fatia financiável de imóveis usados para até 80% de seu valor deve destravar o mercado imobiliário para os segmentos das classes média e alta, em que o imóvel atual é utilizado como entrada na compra de um novo.

* Colaborou Pamyle Brugnago